terça-feira, 24 de agosto de 2021

O calcanhar de aquiles da agricultura segue piorando: FertilizantesA


fertilizantes

Foto: Gabriel Souza Martins/Embrapa

 

Fonte; Blog  canal rural

Autor Benedito Rosa

Graduado em administração pela FGV/RJ

Estimativa do mercado é de que o consumo de adubos deverá alcançar 43 milhões de toneladas em 2021. O resultado desse quadro são importações batendo recorde a cada ano, trazendo vulnerabilidade à produção brasileira

23 de agosto de 2021 às 10h54

O crescimento recente no consumo interno de fertilizantes é da ordem de 8,5% ao ano, face a uma produção interna pequena, estagnada e sem perspectiva de aumento expressivo em médio prazo. Por seu turno, a produção de grãos avança para 300 milhões de toneladas, explicando porque somos o terceiro maior consumidor de fertilizantes do mundo. A estimativa do mercado é de que o consumo de fertilizantes deverá alcançar 43 milhões de toneladas em 2021. O resultado desse quadro são importações batendo recorde a cada ano.

Vulnerabilidade alta para a agricultura

Produção interna pequena e estável – o Brasil produziu apenas 6,1 milhões de toneladas em 2020. O item mais decepcionante é o do cloreto de potássio, que mal conseguimos atender 3,5% do consumo.

Poucos fornecedores – apenas uma meia dúzia de países e poucas empresas gigantes abastecem o mundo com exportações volumosas de produto tão essencial para uma centena de países. Portanto, há sempre o risco de interrupções no fluxo, inclusive as provocadas por restrições de ordem geopolítica, como é o atual caso da União Europeia contra a Bielorrússia, que juntamente com a Rússia fornece 2/3 do fosfato monoamônico importado pelo Brasil.

Mercado volátil – grandes volumes podem ser adquiridos por países dependentes provocando queda de oferta e elevação de preços, como foi a situação criada por recente e grande compra realizada pela Índia de cloreto de potássio da China, provocando falta e aumento no seu preço. Outro caso que assustou os brasileiros foi a paralisação nas exportações de glifosato por parte da China (de onde provém quase 100% das nossas importações) com a justificativa apresentada de realização de reformas e manutenção em seus portos.

Produção interna sem perspectiva – além dos custos de produção elevados, inclusive de energia, os brasileiros não conseguem organizar um modelo racional e aceitável pelas partes diretamente envolvidas: indústrias-ambientalistas-indígenas-população municipal, todos sob pressão dos políticos e seus partidos e o sistema judiciário invasivo na área executiva. É patético constatar que jazidas colossais de minerais existem e continuarão deitadas em berço esplêndido enquanto o país segue como o maior importador do mundo, que é obrigado a gastar US$ 9 bilhões por ano para suprir a demanda interna do setor mais dinâmico da economia, que sustenta um quarto do PIB e do emprego e movimenta R$ 1 trilhão.

Dentre as jazidas existentes, destaca-se uma gigantesca localizada no centro-oeste do Pará e do Amazonas, descobertas na década de 70 do século passado. As estimativas iniciais dos geólogos foram de que se trata de jazidas de diversos minerais, com destaque para os sais de potássio (silvita) que se constitui na maior do planeta com suas 3,2 bilhões de toneladas. Se explorada, o Brasil inverteria sua posição, de quase total dependência de importações para grande fornecedor mundial de um produto estratégico para garantir segurança alimentar.

Logística interna ruim e custos altos para os agricultores

A maior parte dos fertilizantes importados entra pelos portos de Santos e Paranaguá, e daí seguem por caminhões até as misturadoras, que, depois para os centros de distribuição e consumo, num roteiro que vai até o Norte do Brasil.

As perspectivas para médio prazo são ruins do ponto de vista de investimentos na área. Os projetos de exploração são complexos, demorados e exigem muita negociação até iniciar a produzir. O lodaçal da burocracia e o jogo de democracia sem limites emperram os investimentos. Os atuais grandes produtores Rússia, China, Bielorrússia e Marrocos conseguiram superar obstáculos e dificuldades. Durante o governo militar foi criada a Petromisa, para atuar no setor e concorrer com as gigantes internacionais. Posteriormente, a empresa foi adquirida pela Vale que, por sua vez, secundarizou a pesquisa e a lavra de minerais que não o ferro. De forma semelhante, a Petrobras também se concentrou no petróleo, abandonando outros minerais. Para piorar, concessões a empresas estrangeiras não avançaram, e ficamos no vazio atual.

Continuamos tampando o sol com a peneira, e não enfrentamos de frente este problema sério e prioritário que torna vulnerável, sujeito a interrupções, a continuidade do trajeto bem-sucedido da agricultura brasileira. Não se trata de opinião, mas de constatação da realidade.

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