quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Desempenho de variedades de bananeira em sistema de produção orgânica




A banana, Musa spp., uma das frutas mais consumidas no mundo, possui vitaminas (A, B e C), minerais (Ca, K e Fe), fibras (1,5 a 2,8 g/100 g) e baixos teores calóricos (78 a 128 kcal/100 g) e de gordura (0,1 a 0,2 g/100 g), constituindo importante fonte de alimento. A bananeira, predominantemente do tipo Prata (grupo genômico AAB), é cultivada de norte a sul do país, em solos dos mais diversos, sob sistemas de produção convencional, integrada e orgânica.





O sistema de produção orgânica busca manejar de forma equilibrada o solo, água, plantas e animais, conservando-os a longo prazo e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos. Nesse sistema, a bananeira já tem sido cultivada e está certificada nos Estados do ES, MG, PE, RJ, RS, SC e SP.

O princípio básico do manejo orgânico é a utilização da matéria orgânica para proporcionar melhoria da fertilidade e vida do solo, dar garantia de produtividade e qualidade dos produtos agrícolas, como também oferecer proteção às plantas contra pragas e doenças. Como aliado do processo, o uso de coberturas verdes e vivas no solo, como as leguminosas, permite a produção de matéria orgânica e o fornecimento de nitrogênio (N). As leguminosas caracterizam-se por obter a quase totalidade do N que necessitam da atmosfera, por meio da simbiose com bactérias específicas. Além disso, possuem raízes geralmente bem ramificadas e profundas, que atuam estabilizando a estrutura do solo, reciclando nutrientes e incorporando matéria orgânica.

Objetivou-se neste estudo avaliar o desempenho de seis variedades de bananeira sob condições de manejo orgânico, com duas leguminosas para cobertura do solo.

Implantou-se uma área, sem irrigação, na Unidade de Pesquisa de Produção Orgânica (UPPO) da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas, Bahia, em Latossolo Amarelo distrocoeso, em julho de 2006. O solo, antes do plantio da bananeira, apresentou os seguintes atributos químicos, na camada de 0-20 cm: pH em água igual a 4,9; P e K com os valores respectivos de 5 e 117 mg/dm3; Ca, Mg, SB e CTC de 2,5; 0,3; 3,18 e 7,91 cmolc/dm3, respectivamente; V=40%; e M.O.= 7,5g/kg; e de 20-40 cm: pH em água=4,6; P e K, respectivamente, 2 e 47 mg/dm3; Ca, Mg, SB e CTC de 1,3; 0,5; 2,05 e 6,01 cmolc/dm3, respectivamente; V=34%; e M.O.= 5,2 g/kg.

Foram avaliadas seis variedades de banana [Caipira (AAA), Maravilha (AAAB), Pacovan Ken (AAAB), Prata-Anã (AAB), Thap Maeo (AAB) e Tropical (AAAB)], no espaçamento de 4m x 2m x 2m, com 25 plantas úteis de cada variedade, sob dois manejos do solo com as leguminosas feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e amendoim forrageiro (Arachis pintoi). As leguminosas foram plantadas na mesma época da bananeira, sendo ceifadas ao final da estação chuvosa. Além da calagem para elevar a saturação por bases (V) para 70%, as bananeiras foram adubadas no plantio com 10 litros de composto orgânico + 1 kg de fosbahia e, em cobertura, com 2,5 litros de composto orgânico. Para avaliar o desempenho das variedades de banana sob manejo orgânico foram determinados, por ocasião do florescimento, o número de dias do plantio ao florescimento (DFL), a altura (ALT) e o diâmetro (DPC) do pseudocaule e o número de folhas vivas (NFV); e na colheita, número de dias do plantio à colheita - ciclo - (DCL), peso das pencas (PPE), número (NFR) e peso médio de frutos (PMF), comprimento (CFR) e diâmetro (DFR) médio dos frutos da 2a penca, como também a produtividade da bananeira, por ciclo e por ano em tonelada.

Os dados obtidos foram analisados por estatística descritiva e as médias, dentro de cada variedade, comparadas pelo teste t, considerando probabilidade de 10%.

Os atributos avaliados, em comparação com o sistema convencional, mostraram, de maneira geral, ciclo mais longo (502 a 585 dias) e menor produtividade (8,7 a 26 t/ha/ciclo), exceto a variedade Maravilha (24,8 e 26,0 t/ha/ciclo), a qual apresentou produtividade por ciclo 25% superior à do cultivo convencional, indicando boa adaptação dessa variedade ao manejo orgânico, porém com um ciclo mais longo (542 e 545 dias). Além disso, as variedades Maravilha e Pacovan Ken, tetraplóides melhorados, foram aquelas com maior número de plantas colhidas (80%). Já a ‘Tropical’, além de ter produzido por ciclo, em média, 4,3 t/ha menos do que o observado pela mesma variedade no sistema convencional, apenas 20% das plantas foram colhidas. Isto indica uma adaptação restrita a esse sistema em Latossolo Amarelo dos Tabuleiros Costeiros, apesar de essa variedade estar sendo cultivada com sucesso no sistema orgânico em solos do Estado de Santa Catarina (informação pessoal).

Quanto às coberturas vivas do solo, apenas a ‘Caipira’ não mostrou diferença entre as leguminosas para os atributos avaliados. A ‘Maravilha’ apresentou-se significativamente mais vigorosa (altura e diâmetro do pseudocaule e número de folhas vivas maiores) na cobertura viva do solo com feijão-de-porco (2,56 m de altura; 21,2 cm de diâmetro do pseudocaule e 12,6 folhas). Estes resultados confirmam a potencialidade dessa leguminosa como cobertura do solo para a bananeira. Contudo, para ‘Prata Anã’, o amendoim forrageiro reduziu significativamente o número de dias para o florescimento e para a colheita (42 dias), apesar de ter sido 97 dias superior ao período estimado no sistema convencional. Além disso, apesar do número de frutos 19% menor ao do sistema convencional, o peso médio do fruto foi semelhante (111,9 g). Por outro lado, a cobertura do solo com feijão-de-porco proporcionou maior diâmetro do pseudocaule (20,7 cm) e maior número de frutos (192) para ‘Thap Maeo’ e maior número de frutos (120) para a ‘Tropical’, no primeiro ciclo de produção.

Assim, na primeira colheita, a variedade de banana Maravilha obteve melhor desempenho no sistema de produção orgânica, enquanto a ‘Tropical’ apresentou o menor. Já a cobertura viva com feijão-de-porco foi mais benéfica à bananeira.


As figuras 1 e 2 mostram vistas do cultivo da bananeira sob manejo orgânico.








Figura 1. Vista da área com as coberturas com feijão-de-porco e amendoim forrageiro.

Ana Lúcia Borges e Luciano da Silva Souza
Pesquisador(a) da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Caixa Postal 007, Cruz das Almas, BA, CEP 44380-000, analucia@cnpmf.embrapa.br, lsouza@cnpmf.embrapa.br.

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