terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Azolla como biofertilizante - um desafio a aceitar

A Natureza deslumbra-nos a cada passo com os recursos que oferece. A Azolla como biofertilizante é mais um exemplo. E a questão é sempre a mesma. Que fazer para agarrar esta potencialidade e colocá-la ao serviço do agricultor de forma utilizável, isto é, ao serviço dos seus objetivos e compatível com os meios de que dispõe.




 A informação básica sobre a matéria aqui exposta provém de um artigo publicado por Carrapiço et al. (2000) onde em paralelo com uma revisão da sistemática do pteridófito do género Azolla, se apresentam os resultados de um projecto de utilização desta planta aquática como biofertilizante, que teve lugar na Guiné-Bissau de 1989 a 1995.

A Azolla é um pequeno feto flutuante, que abriga, na cavidade do lobo dorsal das suas folhas, uma comunidade simbiótica composta por cianobactérias filamentosas da espécie Anabaena azollae e bactérias nomeadamente do género Arthrobacter, que com a planta hospedeira procedem a uma troca de metabolitos, designadamente compostos de azoto fixado pela acção das cianobactérias.

A utilização de Azolla como fonte de nitrogênio na cultura do arroz é praticada desde há séculos na China e no Vietname. Em África, o incremento do uso deste
biofertilizante, foi objeto de um projeto conjunto da ADRAO (Association pour le Développement de la Riziculture en Afrique de l’Ouest) e da FAO, sediado em St. Louis (Senegal), iniciado nos finais da década de 80, com a coordenação da Universidade Católica de Lovaina.O objetivo foi estudar o uso da Azolla como biofertilizante na cultura do arroz, com desenvolvimento de tecnologias e escolha de estirpes adequadas. Apesar das habituais dificuldades, o projeto registrou resultados não apenas quanto ao seu uso como biofertilizante, mas também como alimento para diversas espécies, designadamente suinos, patos e peixes.

O interesse da exploração das potencialidades da Azolla, liga-se mais uma vez aos problemas que afetam as comunidades camponesas que dispõem de limitados recursos financeiros para a adoção de técnicas de fertilização azotada dependentes da aquisição de fertilizantes químicos e que se encontram assim, na prática, impedidas de alcançar os acréscimos de produção de que carecem. Por outro lado, todos os países em vias de desenvolvimento terão à partida evidentes vantagens em que sejam utilizados recursos endógenos no incremento da produção. No caso vertente, a Azolla pinnata subsp. africana, desenvolve-se naturalmente na Guiné-Bissau, onde, na região em que se situa a estação do INPA de Contubel (Bafatá), onde o projeto foi desenvolvido, forma no rio Geba, durante a época seca, extensos tapetes de cor vermelha escura, cobrindo a superfície da água. A Azolla foi colhida no rio e objeto de preparação sob a forma de composto para a fertilização dos campos experimentais de arroz. Os ensaios confrontaram diversos níveis de fertilização nitrogenada, quer utilizando apenas ureia (87 kg N//ha), quer apenas composto de Azolla (7 e 14 ton/ha), quer estas quantidades de composto e um suplemento de ureia (43,5 kg N/ha), tomando como referência uma parcela não fertilizada. O gráfico registra as médias das produções obtidas nos ensaios, mostrando assim, nas condições locais, a contribuição de Azolla para os acréscimos de produção verificados. O passo seguinte consiste em estudar em detalhe os contornos do processo e a forma de

os resultados poderem ser objeto de utilização generalizada pelos camponeses. No artigo sob referência é indicado que «O uso da Azolla na forma de composto foi uma opção para impedir os problemas associados ao descontrolado crescimento desta planta e também escolhido pela fácil forma de ser utilizada pelos camponeses». Não cabe aqui a discussão deste caso concreto, mas apenas tomá-lo como ponto de partida para a consideração do interesse deste tema para a generalidade dos países a que nos dirigimos. Azolla existe não só na Guiné-Bissau, mas ainda em Angola e Moçambique, onde embora em alguns locais não forme tapetes espessos à superfície das águas que permitam a sua utilização direta, não deixa por isso de constituir localmente um adubo para a agricultura.

O artigo sob análise faz referência a alternativas, quer as que se designam de azolacultura, tais como no Egito, onde a Azolla é cultivada nos campos de arroz no período que antecede a cultura, quer para além da Azolla, na Índia, onde se pratica a exploração direta da atividade das próprias cianobactérias, que são inoculadas nos campos de cultura, por vezes mediante a utilização de substratos para a sua fixação (espumas de poliuretano). Trata-se de um campo em aberto, com largos horizontes, onde há ativa investigação em curso em diversos países. Importa pois estudar, perante os condicionalismos locais, as possíveis formas de utilização, prefigurando os benefícios expectáveis e eventuais riscos, com o objetivo de colocar de uma forma útil e segura, este potencial ao serviço das comunidades camponesas. É um trabalho que tem de ser desenvolvido in situ, com a colaboração ativa dos próprios agricultores, para que desde o início sejam apenas desenvolvidas vias que se revelem à partida aderentes às condições locais de produção. Que fascinante programa para os serviços de Investigação & Desenvolvimento dos países a que nos dirigimos, com objetivos que podem inclusivamente ultrapassar a problemática da fertilização azotada e incluir temas como a alimentação animal e a degradação terciária de efluentes domésticos e industriais! Que oportunidade para a captação de recursos financeiros junto dos parceiros de desenvolvimento em cada país!

Carrapiço, F., Teixeira, G. & Diniz, M. A., 2000 –«Azolla as biofertilizer in Africa. Challenge for the future». Revista de Ciências Agrárias, vol. 23 (3-4): 128-138.

Mais informações sobre azolla em:
http://kolamazolla.blogspot.com/

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