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domingo, 6 de outubro de 2019

Mudança climática pode piorar a qualidade das pastagens!

FONTE: USP

Elevação da temperatura média pode fazer com que as forrageiras fiquem mais fibrosas e menos proteicas, quando o gado precisará de mais alimento e produzirá mais metano
Para manter o mesmo nível de produção, os pecuaristas precisarão complementar a alimentação do plantel e regar as pastagens, com impacto significativo nos custos de produção – Foto: Divulgação via Fapesp
O aumento das temperaturas médias esperado para as próximas décadas, de no mínimo 2º C, pode ter um impacto inesperado no bolso dos pecuaristas. Novos estudos sugerem que um dos efeitos da mudança no clima será a redução na qualidade da pastagem, que se tornará menos proteica, mais fibrosa e, portanto, de digestão mais demorada.
Como consequência, disseram os pesquisadores, o gado precisará consumir mais alimento para alcançar o peso de abate e passará a produzir mais metano, um potente gás causador do efeito estufa.
As conclusões têm como base experimentos feitos pela equipe de Carlos Alberto Martinez y Huaman, professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Participaram do estudo pesquisadores do Instituto de Botânica de São Paulo, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal e do Instituto Federal Goiano, campus Rio Verde.
“Buscamos entender como as pastagens forrageiras responderão fisiológica e produtivamente às condições futuras do clima, que envolvem aumento na temperatura média e na concentração de dióxido de carbono (CO2), além de redução da disponibilidade de água”, disse Martinez à Agência Fapesp.
As principais espécies vegetais cultivadas são classificadas em C3 e C4, nomenclatura relacionada à via usada pela planta para fixar carbono na fotossíntese. Soja e feijão, por exemplo, usam a via C3. Gramíneas tropicais, como cana-de-açúcar, milho e forrageiras, desenvolveram um sistema complementar à C3 chamado de via C4.
Na tentativa de determinar com precisão as mudanças fisiológicas que as forrageiras deverão sofrer no futuro, Martinez evitou realizar experimentos em estufas – locais considerados limitados para fazer as simulações necessárias.
Como explicou o pesquisador, as plantas em estufas são cultivadas em vasos e, desse modo, têm o crescimento das raízes limitado. Consequentemente, crescem menos do que em campo aberto. Outras variáveis impossíveis de serem reproduzidas na estufa são a intensidade e a variação da luminosidade e da temperatura, causadas pela ação do vento sobre as folhas, além da profundidade do solo, no qual as raízes podem penetrar à procura de água.
“Para alguns experimentos, o modelo de vasos é válido, mas para simulações de clima futuro também são necessários experimentos de campo. Conseguimos aquecer as plantas ao ar livre com aquecedores infravermelhos. Além disso, enriquecemos o ar com CO2 em ambiente aberto, graças a uma infraestrutura denominada Trop-T-FACE, instalada em campo com apoio do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais”, disse Martinez.
Experimentos em campo aberto – Foto: Divulgação via Fapesp
Os experimentos foram realizados em campo aberto, onde as plantas estão submetidas a condições normais de temperatura, luminosidade, vento e umidade e o solo é profundo, podendo as raízes se estender em busca de água.
A espécie empregada foi o capim-mombaça (Panicum maximum), uma forrageira tropical de origem africana que realiza fotossíntese pela via C4. Amplamente usado no Brasil como pasto, por sua alta qualidade nutricional, o capim-mombaça é comum em São Paulo e em outros Estados.
“Colocamos aquecedores infravermelhos em 16 canteiros, aquecendo as plantas 2º C acima da temperatura ambiente. Os equipamentos são capazes de detectar a temperatura ambiente a cada 15 segundos, ajustando os valores de acordo com a necessidade”, disse Eduardo Habermann, bolsista da Fapesp e primeiro autor dos trabalhos publicados nas revistas Physiologia Plantarum e Plos One.
“O experimento foi realizado em novembro de 2016, período de grande calor. A temperatura ambiente estava em 38º C e, nos canteiros, chegou a 40º C”, disse Habermann.
Ao longo do experimento, os pesquisadores aferiram as condições de trocas gasosas das plantas com a atmosfera, as condições da fotossíntese, a fluorescência da clorofila, a produção de folhagem (biomassa) e a qualidade nutricional do pasto.
“Vimos que, em condições de seca, as plantas tentam economizar a água do solo. O controle é feito pelos estômatos, pequenas estruturas presentes nas folhas, que se abrem para absorver o CO2. Mas, ao fazê-lo, perdem água. Com pouca água no solo, a raiz se ressente. A planta fecha os estômatos e transpira menos. O efeito da economia de água é a redução da fotossíntese, com a consequente piora na qualidade da planta”, disse Habermann.
Além do apoio da Fapesp, o trabalho também contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Agência Nacional de Águas (ANA).

Folhas mais fibrosas

Outras respostas do capim-mombaça ao estresse hídrico, detectadas pelo estudo, foram o aumento na quantidade de fibras das folhas e a redução no teor de proteína bruta – fatores que representam perda de qualidade nutricional.
Os pesquisadores estimam que, nas condições futuras de temperatura, o aumento na quantidade de fibras resultará em uma digestão mais difícil e demorada para o gado. A consequência direta será a produção de maior quantidade de metano pelos animais.
“O gado precisará consumir mais pasto até atingir o peso de abate. Para manter o mesmo nível de produção, os pecuaristas precisarão complementar a alimentação do plantel e regar as pastagens, com impacto significativo nos custos de produção”, disse Martinez.
Outra alternativa, nem sempre possível, é a expansão das áreas de pastagem, o que pode favorecer o desmatamento ou fazer com que o produtor abra mão de outros cultivos.
A equipe também realizou experimentos com plantas C3, como a leguminosa estilosantes campo grande (uma mistura das espécies Stylosanthes capitata e Stylosanthes macrocephala), forrageira rica em proteína e que executa a função de capturar o nitrogênio da atmosfera e fixá-lo biologicamente no solo, reduzindo os investimentos em insumos agrícolas, contribuindo para a redução dos impactos ambientais e possibilitando maior ganho de peso aos animais.
“Os experimentos de mudanças climáticas realizados com a leguminosa C3 deram o mesmo resultado. A qualidade nutricional é reduzida”, disse Martinez.
O artigo Increasing atmospheric CO2 and canopy temperature induces anatomical and physiological changes in leaves of the C4 forage species Panicum maximum (https://doi.org/10.1371/journal.pone.0212506), de Eduardo Habermann, Juca Abramo Barrera San Martin, Daniele Ribeiro Contin, Vitor Potenza Bossan, Anelize Barboza, Marcia Regina Braga, Milton Groppo e Carlos Alberto Martinez, está publicado em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0212506.
O artigo Warming and water deficit impact leaf photosynthesis and decrease forage quality and digestibility of a C4 tropical grass (https://doi.org/10.1111/ppl.12891), de Eduardo Habermann, Eduardo Augusto Dias de Oliveira, Daniele Ribeiro Contin, Gustavo Delvecchio, Dilier Olivera Viciedo, Marcela Aparecida de Moraes, Renato de Mello Prado, Kátia Aparecida de Pinho Costa, Marcia Regina Braga e Carlos Alberto Martinez, está publicado em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ppl.12891.
Peter Moon / Agência Fapesp

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Pesquisa resgata gene do #tomate selvagem para aumentar valor nutricional do fruto

Fonte: jornal da USP

Com maior concentração de vitamina E e açúcares, planta transgênica teve reinserido o gene GLK2, eliminado do tomate pela domesticação.

Pesquisadores produziram um tomate transgênico reintroduzindo o gene GLK2 selvagem,
perdido durante o processo de domesticação e melhoramento do fruto – Foto: Marcos Santos/ Jornal da USP
. O gene responsável por amadurecer o tomate uniformemente dando-lhe um aspecto mais atraente aos olhos do consumidor é o mesmo que faz dele um fruto com menor valor nutricional. Tomates vistosos encontrados nas feiras têm menos vitamina E e baixo nível de açúcares, o que impacta, inclusive, na qualidade e densidade de polpas, extratos e molhos. Os estudos que evidenciam este fato envolvendo a transcrição da proteína GOLDEN 2-LIKE 2 (GLK2) foram tema de artigo científico publicado na PlosOne por pesquisadores do Laboratório e Genética Molecular de Plantas do Instituto de Biociências (IB) da USP.
Segundo a bióloga Maria Magdalena Rossi, coordenadora do projeto temático que trabalha com a compreensão e manipulação do metabolismo vegetal, os pesquisadores produziram um tomate transgênico reintroduzindo um gene GLK2 selvagem, perdido durante o processo de domesticação e melhoramento do fruto. A experiência foi feita com o objetivo de demonstrar que a mutação em GLK2, selecionada para proporcionar amadurecimento uniforme ao fruto – uma demanda do setor agroindustrial – comprometeu o sabor e suas propriedades nutricionais. O tomate com o gene selvagem possui 25% mais vitamina E que os convencionais, além de polpa mais densa. .
Maria Magdalena Rossi, pesquisadora da USP e coordenadora do projeto temático GLK2 – gene que afeta a qualidade nutricional dos tomates – Foto: Marcos Santos/ Jornal da USP
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Ao longo dos anos, o tomate passou por um processo de domesticação e melhoramento até chegar ao que ele é hoje. Os tomates selvagens, originários dos Andes Peruanos, são menores e, a maioria, não acumula carotenoides (compostos de importância nutricional que conferem coloração laranja/vermelha). E os que possuem carotenoides, não amadurecem de forma uniforme, sendo o “ombro” ou a parte de cima do fruto a última a ganhar cor avermelhada. Essa característica nativa tornou-se um problema para a colheita mecanizada e fez com que os frutos perdessem apelo do consumidor, relata a professora Magdalena.

O foco do trabalho era saber se a mutação em GLK2 introduzida na maioria das variedades cultivadas hoje estaria afetando os compostos nutricionais, em particular os açúcares e a vitamina E. E se fosse comprovada esta hipótese, os pesquisadores consideravam que se o GLK2 fosse reintroduzido ao fruto, se recuperaria o valor nutricional, explica.

Tomate transgênico tem 25% mais
vitamina E que os convencionais

A solução foi sobre-expressar a proteína, ou seja, desenvolver uma planta que produzisse fruto com maior quantidade de GLK2. Assim seguiram as experiências e foram cultivadas mudas transgênicas, mutantes (tomates convencionais) e outras com o gene selvagem. Depois, em laboratório, foram feitas análises bioquímicas de amostras das três variedades. A hipótese se confirmou: “Com a reintrodução do gene GLK2, o tomate da planta transgênica apresentou tanta vitamina E quanto a planta selvagem e 25% mais do que os tomates convencionais. Em relação ao nível de açúcar, a planta geneticamente modificada teve grau Brix (medida de conteúdo sólidos e solúveis) mais elevado que o tomate selvagem e o convencional. O grau Brix é utilizado para identificar a qualidade da polpa do fruto que influi na densidade de extratos, massas e molhos, parâmetro de valor econômico bastante considerado pela indústria alimentícia. .
As três variedades cultivadas no Laboratório de Genética Molecular do Instituto de Biociências da USP – Foto: Marcos Santos/ Jornal da USP
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A pesquisadora lembra que não é necessário produzir plantas transgênicas para restaurar o conteúdo nutricional dos frutos para o consumo humano, e que a planta transgênica produzida no IB serviu apenas de ferramenta de pesquisa para demonstrar que as modificações feitas nos tomates ao longo do tempo acabaram prejudicando a qualidade nutricional do fruto. “Um tomate mais nutritivo pode ser obtido resgatando o GLK2 por meio de cruzamentos”, reforça.

Mais informações: (11) 3091-7556 ou mmrossi@usp.br, com Maria Magdalena Rossi, ou bslbsl@usp.br, com Bruno Silvestre Lira

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

“Fungos do bem” combatem pragas em plantações de morango e feijão!! USP

Fonte: Jornal da USP

Nova forma de aplicação de fungos traz oportunidade para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável
Novo método é uma estratégia inovadora que pode reduzir as aplicações de 
 agroquímicos para o controle do ácaro rajado, melhorar o desenvolvimento das 
plantas de feijão e de morango, além de ser inofensivo ao meio ambiente
 e à saúde humana – Foto: Gustavo-Mansur via Flickr
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Um dos grandes desafios para os agricultores brasileiros é o controle de pragas e a estratégia de combate mais utilizada por eles tem sido o uso de agroquímicos, que podem causar consequências graves ao meio ambiente e aos seres humanos. Buscando inovações para uma agricultura sustentável, pesquisadores da USP e da Universidade de Copenhague (Dinamarca) utilizaram meios naturais para diminuir a população de organismos considerados prejudiciais às plantações. Inocularam fungos entomopatogênicos (que podem atacar os insetos) em plantas de feijão e de morango para combater o ácaro rajado (Tetranychus urticae), que atinge além destas duas culturas mais outras 200 espécies diferentes.
Fernanda Canassa, autora da pesquisa que usa fungos entomopatogênicos para o controle do T. urticae – Foto: Arquivo pessoal
Segundo a autora da pesquisa, a bióloga Fernanda Canassa, do Laboratório de Patologia e Controle Microbiano de Insetos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, esses fungos já são utilizados para combater pragas em outras plantações, porém, são pulverizados sobre as plantas com o objetivo de atingir determinada praga alvo. No estudo em questão, as sementes de feijão e as raízes de plantas de morango foram inoculadas (mergulhadas) em suspensões de fungos. “Este novo método é uma estratégia inovadora que pode reduzir as aplicações de agroquímicos para o controle do ácaro rajado, melhorar o desenvolvimento das plantas de feijão e de morango, além de ser inofensivo ao meio ambiente e à saúde humana.”
O ácaro rajado ataca as folhas das plantações provocando amarelecimento destas, reduz capacidade da planta de realizar a fotossíntese e como consequência há perda acentuada da produção e da qualidade dos frutos. No morangueiro, por exemplo, quando há grande infestação, a produção de frutos fica comprometida em até 80%. O controle da praga é realizado com a aplicação de acaricidas ou através da liberação de ácaros predadores. Fernanda explica que quando inoculados, “os fungos dos gêneros Metarhizium e Beauveria (os “fungos do bem”) são capazes de colonizar o interior dos tecidos das plantas e conferir proteção contra algumas espécies de pragas”, diz.
Os estudos foram realizados conjuntamente na Dinamarca e no Brasil. Na Universidade de Copenhague, os testes foram feitos com feijão cultivado em casa-de-vegetação. A ideia foi analisar os efeitos da inoculação de sementes de feijão em suspensões de Metarhizium e Beauveria no crescimento populacional do ácaro rajado, no desenvolvimento e produção da leguminosa e no comportamento e taxa de predação de uma espécie do ácaro predador (Phytoseiulus persimilis).
Cultivo do feijão – Foto: Arquivo pessoal Fernanda Canassa
No Brasil, os experimentos foram feitos com morangos em casa-de-vegetação na Esalq e em quatro áreas de produção comercial, sendo três em Atibaia, em São Paulo, e uma em Senador Amaral, Minas Gerais. Nesse caso, as raízes de morangueiro foram inoculadas em suspensões fúngicas. Aqui, foram avaliados o crescimento populacional do ácaro rajado, o desenvolvimento das plantas e a produção de frutos. Em campo, foram também observados os efeitos contra fitopatógenos (micro-organismos que causam doenças nas plantas) e ácaros predadores presentes nas áreas experimentais.
Cultivo do morango – Foto: Arquivo pessoal Fernanda Canassa

Mais frutos e leguminosas sem agredir o meio ambiente

Os resultados da pesquisa confirmaram redução significativa na população de T. urticae e melhor desenvolvimento das plantas. Segundo Fernanda, a produção das vagens do feijão e dos frutos de morango foram superiores nas plantas inoculadas em relação às não inoculadas. No campo, foram observadas populações significativamente menores de T. urticae, menos sintomas de doenças e não houve efeito negativo na população natural de uma espécie de ácaro predador (Neoseiulus californicus).
Como perspectiva prática, Fernanda afirma que há a possibilidade de, no futuro, haver o desenvolvimento de produtos comerciais, como um biopesticida à base de fungos entomopatogênicos para uso como inoculantes. “A associação desses produtos biológicos com outros inimigos naturais (parasitoides e predadores) certamente contribuirá para o manejo integrado de pragas de diversas culturas no campo”, completa.
A tese de doutorado Effects of entomopathogenic fungi used as plant inoculants on plant growth and pest control foi defendida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, sob a orientação dos pesquisadores Italo Delalibera Junior (Esalq) e Nicolai Vitt Meyling (Universidade de Copenhague).
Mais informações: e-mail fernanda.canassa@usp.br, com Fernanda Canassa
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Arte: Cleber Siquette/ Jornal da USP
Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.




sábado, 15 de julho de 2017

Astrapeia e outras árvores da USP ganham identidade

Fonte: jornal da USP

Projeto na Cidade Universitária, em São Paulo, ajuda a reconhecer a importância das plantas
Por - Editorias: Universidade
As tipuanas são exemplos de árvores que podem ser encontradas na Cidade Universitária  – Foto: Marcos Santos

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Quem entra na Cidade Universitária, um dos campi da USP na cidade de São Paulo, logo se depara com um ambiente bem distinto do resto da capital paulista. Toda a extensão da Avenida da Universidade é dominada por tipuanas, árvores que se destacam na paisagem, mas estão longe de ser as únicas. Para conhecer algumas das centenas de espécies vegetais presentes no campus, desde 2015, alunos do Instituto de Biociências (IB) da USP se organizaram para identificar aquelas que estão mais próximas dos frequentadores da Universidade.
Entre eles está o estudante Matheus Colli. Ele tem analisado amostras de árvores do fitotério do IB, um “jardim botânico” destinado a pesquisa e ensino de biologia. Estima-se que haja cerca de 750 espécies nativas e exóticas no local, das quais 70 foram identificadas com a ajuda de colegas do curso.
“Demos preferência às árvores porque plantas menores podem morrer e não ser repostas. Além disso, selecionamos as que estão próximas a trilhas, com as quais as pessoas têm mais contato”, explica Matheus.
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Detalhe da árvore Astrapeia no campus Cidade Universitária  – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
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A iniciativa dos estudantes integra o projeto Árvores USP, coordenado pelo professor José Rubens Pirani, do Departamento de Botânica do IB, e já se expandiu para o Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, onde foram identificadas 30 árvores.
Com o financiamento da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), foram fabricadas 100 placas de inox com informações básicas sobre as árvores e um QRCode que dá acesso a mais curiosidades sobre as espécies. A previsão é de que todas as placas sejam fixadas em rochas e pequenos totens próximos das árvores até o mês de agosto.
Astrapeia no IB – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Palmito-juçara próximo ao IME – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Cedro próximo ao IME – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens


Cegueira botânica

A ideia do projeto foi inspirada numa ação dos moradores de Alto de Pinheiros que procuraram o Departamento de Botânica para analisar as árvores das praças do bairro. “A identificação de espécies é uma etapa básica para fazer pesquisas de genoma, de fisiologia ou do uso econômico”, diz Pirani. “Ela é necessária também para reparar erros do passado. Há algumas nomenclaturas que precisam ser revistas.”
Para reconhecer espécies com segurança, o herbário do IB conta com um acervo de 220 mil exemplares coletados e preservados desde o início do século 20. As plantas são desidratadas e mantidas em ambiente seco com até 20ºC.
José Rubens Pirani, professor do Instituto de Biociências, e o aluno Matheus Colli Silva no herbário do Departamento Botânico – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Com a identificação das árvores, se tornou fácil observar como a Cidade Universitária tem seus trechos de mata preservada e de arborização artificial. Por isso, é possível encontrar no IME, por exemplo, árvores brasileiras como o palmito-juçara, o ipê-amarelo e o cedro dividindo espaço com a Markhamia stipulata, originária do Extremo Oriente.
“É bom lembrar que as plantas nativas dão os frutos que os nossos passarinhos gostam e possuem as ramificações mais adequadas para a construção de ninhos”, avisa o professor. “Por isso, está havendo uma mudança no modo de arborizar a cidade, se preocupando mais em introduzir espécies latinas.”.
Prédio do herbário do Instituto de Biociências – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Além das aplicações práticas do projeto, o Árvores USP trouxe outros resultados para os estudantes. “Ele me aproximou da botânica e da pesquisa, acabou basicamente influenciando a minha carreira”, afirma Matheus. Após participar do projeto, o estudante acredita que perdeu sua “cegueira botânica”, a insensibilidade que a maiorias das pessoas possui em relação ao meio ambiente.
“Também me ajudou na relação que eu tenho com a Universidade, a questão de pertencimento e ocupação do espaço, porque, com essa identificação e emplacamento das árvores, todo mundo pode aprender ao ar livre. A sala de aula não é o único espaço possível”, conclui.

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