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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

OÁSIS NO SERTÃO - Barragem subterrânea



A barragem subterrânea é uma tecnologia de captação e armazenamento da água de chuva para produção de alimentos. Possui a função de reter a água da chuva que escoa em cima e dentro do solo, por meio de uma parede construída dentro da terra e que se eleva a uma altura de cerca de 50 cm acima da superfície, no sentido contrário à descida das águas. A barragem subterrânea forma uma vazante artificial temporária na qual o terreno permanece úmido por um período de dois a cinco meses após a época chuvosa, permitindo a plantação mesmo em época de estiagem. Pode ser construída em leito de rio e riacho, córregos e linhas de drenagem. Sua construção é feita escavando-se uma vala no sentido transversal das descidas das águas até a rocha ou camada impermeável. 

Dentro da vala, estende-se um plástico de polietileno com espessura 200 micra por toda sua extensão, fechando-a em seguida com a terra que foi retirada na sua abertura. O plástico dentro da vala se constitui na parede/septo impermeável. Nessa parede, deve ser feito um sangradouro para eliminar o excedente de água quando ocorrer chuvas torrenciais. As opções de cultivos dependem do interesse econômico e social de cada região e de cada família. O sucesso da barragem subterrânea depende da locação, da construção dentro dos parâmetros técnicos recomendados, do conhecimento sobre seu funcionamento/manejo, e da apropriação por parte da família. Recomenda-se áreas com solos com profundidade de 1,5 a 4,5 m, com declividade suave, entre 0,4 e 2,0%, que formam ombreiras (extremidades rasas), não salinos e textura arenosa a média. O custo de uma barragem subterrânea varia de acordo com as condições locais.

É uma tecnologia que permite ao agricultor maior sucesso no cultivo de diversas espécies, contribuindo para o desenvolvimento rural sustentável do semiárido brasileiro, por promover melhoria das condições de vida das famílias agricultoras, garantindo renda e segurança alimentar.
Esta solução tecnológica foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com outras instituições.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Pesquisadores criam sistema integrado de tecnologias sociais para rejeitos de dessalinizadores

Fonte: http://nossaciencia.com.br/noticias/pesquisadores-criam-sistema-integrado-de-tecnologias-sociais-para-rejeitos-de-dessalinizadores/
Professor Nildo Dias, no centro da foto, com os participantes do projeto.
 
Projeto desenvolvido na Ufersa está beneficiando famílias de Assentamentos e Comunidades rurais. A ideia foi selecionada para prêmio da Agência Nacional de Águas

As estações de tratamentos de águas salobras de poços instaladas em Comunidades e Assentamentos rurais vêm sendo utilizadas por dezenas de famílias que sofrem com a escassez hídrica. Mas, qual o destino adequado para os rejeitos salinos desses dessalinizadores que podem poluir rios e solos, causando grande impacto ambiental? Aproveitar o rejeito para irrigar hortas comunitárias, na produção de tilápias e na engorda de rebanhos caprinos e ovinos foram as respostas sustentáveis dos pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Semiárido (Ufersa).
Iniciado em 2009, o projeto de pesquisa da Ufersa “Produção Agrícola Familiar Utilizando Rejeito da Dessalinização”, coordenado pelo professor Nildo Dias, começou observando os impactos da deposição do rejeito no solo em uma visita de campo à Comunidade de Bom Jesus, Campo Grande, RN. “Decidimos, inicialmente, aproveitar o rejeito salino em um projeto de hortas comunitárias e, como este suporte hídrico era bastante salino, desenvolvemos algumas estratégias de manejo para irrigar as hortaliças, sendo a escolhas de espécies tolerantes aos sais e a irrigação superficial, as principais práticas”, lembra o professor.
Depois dessa primeira ação, os pesquisadores resolveram testar o uso do rejeito salino para a produção de tilápias em viveiro de criação devido a elevada tolerância da espécie à salinidade da água; porém esta deveria estar integrada a outras ações em um sistema de produção capaz de eliminar os riscos de impactos ambientais negativos e que, também, contribuíssem para a segurança alimentar das localidades beneficiadas.

Premiação
Ao todo, seis projetos de todo o país foram selecionados para a final do Prêmio da Agência Nacional de Águas – ANA 2017. O projeto que foi selecionado para a final na categoria Pesquisa e Inovação Científica. Com a classificação, o projeto da Ufersa agora receberá uma visita técnica da comissão avaliadora da Agência. Após essas visitas, serão divulgados o resultado e a classificação final. A visita está agendada para a segunda semana de outubro e a premiação para os vencedores será no dia 06 de dezembro.
O professor Nildo comemora estar entre os finalistas do prêmio. “Isso é muito gratificante porque representa o reconhecimento de um trabalho, iniciado em 2009, em prol do fortalecimento da agricultura familiar. Estamos convictos de que Ufersa pode e deve apontar soluções e caminhos para assegurar água e promover o desenvolvimento e a qualidade de vida dos povos do campo”.
 

Sistema de produção
O professor Nildo Dias explica que o sistema é composto por um conjunto de ações, que inclui o tratamento e dessalinização da água dos poços produzindo água potável para as famílias e também a água residuária (rejeito salmoura ou concentrado). O efluente do dessalinizador é bombeado para tanques de piscicultura para a criação de tilápia, fonte de proteínas para a comunidade. Posteriormente, o efluente dessa criação, enriquecido em matéria orgânica, é aproveitado na produção vegetal (horta comunitária orgânica, irrigação de mudas de essências florestais para revegetação e irrigação de espécies forrageiras. “Por último temos a forragem, com teor de proteína entre 14 e 18%, ela é utilizada para a engorda de caprinos e/ou ovinos que, juntamente como a produção de tilápia e hortaliças garante a segurança alimentas e nutricional das famílias e, ainda a o aumento da renda com a venda do excedente, fechando assim o sistema de produção ambientalmente sustentável”, comemora Dias.
De acordo com o pesquisador, durante o processo de dessalinização, 60% da água tornam-se potável e os outros 40% são rejeitos salinos, que quando não são descartados da forma correta, possuem um elevado potencial de poluição dos rios e solos. A água de rejeito tem potencial para contaminar mananciais, solos e, em casos extremos a fauna e a flora da região, resultando na desertificação da área devido a salinização dos solos.
“Quando, por exemplo, os sais presentes no rejeito da dessalinização tem acumulação excessivamente nos solos, este pode ter vários efeitos negativos sobre as plantas como seca fisiológica (a presença de sais solúveis no solo dificulta a absorção da água no solo) e toxicidade das folhas pelo acúmulo excessivo de sais, reduzindo o seu crescimento e a produção das plantas”, explica Nildo Dias.
Resultados alcançados
O coordenador do projeto conta que as ações da pesquisa apresentaram possibilidades técnicas do uso ‘nobre’ do rejeito salino e apontam a viabilidade desse processo para a produção agrícola familiar, com vista à geração de renda em comunidades rurais. Além disso, essas ações colaboraram significativamente com a gestão participativa das águas residuárias e com a potencialização da geração de renda e de alimentos, por meio da inovação e da diversidade de atividades que poderão ser desenvolvidas pelas famílias, também contribuindo para a conservação ambiental de dois importantes recursos naturais: o solo e a água.
“O rejeito salino tem restrições de uso para fins de irrigação quando manejado inadequadamente e, a sua deposição direta nos solos provoca a salinização das áreas das comunidades. O subsistema criação de peixes utilizando rejeito salino como suporte hídrico ocupa a segunda menor área entre as atividades desenvolvidas na comunidade e o mais eficiente dos subsistemas no que se refere à produtividade. A produção de mudas de essência da caatinga e a produção de hortaliças orgânicas utilizando o rejeito salino são viáveis para o fortalecimento da agricultura familiar com maior segurança ambiental. A erva sal extraiu do solo 971,21 kg de sais por ha-1 ano-1, comprovando o seu poder de fitoremediação dos ambientes salinos”, detalha.
Tecnologia social
Mesmo com os resultados promissores alcançados, o professor Dias conta que no início foi bastante difícil a interação com a comunidade, pois eles não acreditavam muito que a água de rejeito salino pudesse ser utilizada na irrigação e produzir satisfatoriamente. “Muitos diziam: “nem os cavalos bebem essa água”. Mas com o tempo, eles passaram a acreditar e a se envolver mais com o projeto quando os resultados foram surgindo”, relembra.
Ainda segundo ele, hoje é mais fácil envolver as famílias na comunidade, pois inicialmente os pesquisadores fazem um trabalho de sensibilização e mobilização utilizando os resultados da experiência do projeto piloto. “Além disso, realizamos algumas capacitações sobre temas relacionados com o projeto como, por exemplo, produção de mudas, hortas orgânicas e criação de peixes em viveiros utilizando rejeito como suporte hídrico. Para garantir o envolvimento da comunidade e a socialização da tecnologia do nosso projeto utilizamos a metodologia da pesquisa participativa, ou seja, todas as atividades do projeto são dialogadas com as famílias em uma construção conjunta de instrumentos que potencializariam o planejamento das ações e sua execução”, diz.
A equipe do professor Dias é formada por estudantes de graduação e pós-graduação. No projeto já foram desenvolvidos vários Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertações e Teses de Doutorado. Também participam discentes do curso de Engenharia de Pesca, Agronomia, Ciências e Tecnologia e Engenharia Agrícola da Ufersa. “Nós levamos a nossa experiência cientifica para as famílias, mas, também, aprendemos muito com a comunidade e os agricultores(as). Na verdade é uma troca de experiência e de saberes científico e empírico”.
 Planos para o futuro
Em janeiro de 2014, a equipe conseguiu um financiamento do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade – IABS e com isso foi possível replicar essa experiência em mais duas comunidades rurais de Mossoró, no RN (Santa Elza e Serra Mossoró) que, também possuem estações de dessalinização. “Hoje não temos financiamento, submetemos uma proposta para o edital da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e estamos esperando o resultado. Ainda temos muitas pesquisas para realizar”, pondera.
De acordo com Nildo Dias, não há dúvidas que o emprego desta tecnologia acaba por amenizar as precárias condições do abastecimento hídrico nas localidades nordestinas contempladas pelos programas governamentais neste âmbito. “Precisamos otimizar e priorizar questões relativa à qualidade alimentar e nutricional da comunidade e, estamos buscando parceria com profissionais da área de saúde pública para que possamos despertar o interesse das pessoas em ter bons hábitos alimentares e, também evitarem o desperdício de alimento e, se possível, aproveitá-lo antes de serem descartados”, planeja.
A próxima etapa do projeto prevê a redução de custos na criação de tilápias, estudando métodos alternativos para reduzir os gastos com a ração industrializada, que é a maior dificuldade relatada pelos agricultores. “Então, se conseguirmos desenvolver uma ração caseira para alimentar os peixes, os custos serão reduzidos, o agricultor não fica dependente da indústria, ganha autonomia e a tecnologia social torna-se mais acessível”, planeja.

Edna Ferreira

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