Um
inseto transmite o vírus para o trigo e faz subir a temperatura da
planta. O mesmo vírus faz o inseto mais tolerante ao calor, e continuar
ativo disputando alimento – favorecendo assim o vírus
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Navas Iannini explica que os vírus de plantas do tipo BYDW são transmitidos meio de afídeos como os pulgões e os piolhos de planta, insetos que se alimentam da seiva que sugam das espécies vegetais. “É comum a temperatura das plantas variar ao longo do dia, assim como algumas partes serem mais quentes ou frias do que outras”, conta. “Por meio de experimentos usando a técnica de termografia (que produz imagens com cores associados a diferentes temperaturas), constatou-se que os pés de trigo infectados pelo vírus registravam um aumento de até 2 graus Celsius (oC), na temperatura da superfície, que é onde os insetos retiram a seiva com a boca, que tem forma tubular.”
Tolerância ao calor
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Normalmente, as regiões das plantas de trigo com temperatura mais
moderada são ocupadas por insetos maiores, como o pulgão do milho (Rhopalosiphum maidis), deixando pouco espaço para espécies de tamanho mais reduzido, caso do piolho da cerejeira-brava (Rhopalosiphum padi).
“Durante a pesquisa, os testes mostraram que o piolho da
cerejeira-brava era mais tolerante ao calor, o que o tornava mais
competitivo em relação ao pulgão do milho, pois conseguia ficar em
lugares mais altos e mais quentes da planta”, relata o professor.
“Posteriormente, descobriu-se que os vírus BYDW que infeccionam os
piolhos de cerejeira-brava torna-os mais resistentes a choques
térmicos.”De acordo com Navas Iannini, o aumento de resiliência acontece porque os vírus, uma vez no inseto, podem ativar genes que regulam a produção de um tipo de proteínas conhecidas por proteger tecidos de choque termal. “Essas proteínas, uma vez expressadas, permitem a exposição dos insetos a temperaturas acima do normal”, destaca. “Assim como os impactos variam entre espécies, a infecção viral altera as relações ecológicas entre insetos, e também entre insetos e plantas. Apesar de elevar a temperatura superficial do trigo, ela também torna o piolho da cerejeira- brava mais competitivo na disputa por alimento com outras espécies de insetos.”

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O professor aponta que, durante um período significativo da história
da humanidade, microorganismos como bactérias e vírus foram vistos de
forma negativa. “O avanço das pesquisas provocou uma reviravolta nesse
conceito, mostrando que a relação entre os microorganismos e outros
seres vivos é bastante complexa”, afirma. “Há muitos resultados
demonstrando essa relação no caso das bactérias, porém os estudos com
vírus apenas recentemente demonstraram a capacidade das infecções
provocarem reações fisiológicas que aumentam a resistência a condições
ambientais extremas, o que acaba por afetar também as relações
ecológicas”.As pesquisas com o trigo poderão servir de base para novos estudos sobre o papel dos vírus nas interações ecológicas entre insetos e espécies de plantas com interesse agrícola, como a soja, destaca Navas Iannini. “Está é uma linha de pesquisa muito recente, porém os resultados vêm sendo surpreendentes”, conclui. O artigo “Enhanced heat tolerance of viral-infected aphids leads to niche expansion and reduced interspecific competition”, publicado pela Nature Communications em 4 de março, é assinado por Mitzy, Navas Iannini, James Marden, Mark Mescher, Consuelo de Moraes, Sylvain Pincebourde, Andrés Sandoval Mojica, Juan Raygoza Garay, German Holguin, Edwin Rajotte e Tomás Carlo.

Mais informações: e-mail navas@usp.br, com Carlos Arturo Navas Iannini

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