MATHEUS CHAPARINI
As feiras ecológicas crescem em Porto Alegre e já são uma experiência consolidada na Capital. Vinte e seis anos se passaram desde que meia dúzia de pioneiros começaram a se reunir na José Bonifácio uma vez ao mês, para vender produtos livres de agrotóxicos e pesticidas.
De lá para cá, as bancas da tradicional feirinha do Bom Fim se multiplicaram – hoje são mais de 100 feirantes – e ganharam frequência semanal, incentivando a criação de outros cinco espaços para a venda de orgânicos na Capital.
Hoje, há feiras ecológicas também nos bairros Tristeza, Três Figueiras, Menino Deus e Petrópolis – a mais recente, nascida em 2013.
“A tendência é o crescimento à medida que temos mais produtores e consumidores atentos, procurando. É um produto de qualidade com um preço menor do que nos supermercados”, assegura a responsável do Centro Agrícola Demonstrativo da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Smic), Claudia Ache.
A próxima a inaugurar deve ser a do bairro Auxiliadora, cujos moradores já ingressaram com uma solicitação formal na Smic.
CLIENTE COMPRA DE QUEM PRODUZ
Além da garantia de que os alimentos vendidos nas feiras ecológicas não foram produzidos com a utilização de agrotóxicos – cujos riscos já foram reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Instituto Nacional do Câncer, por exemplo – esses espaços aproximam o consumidor dos produtores rurais.
É que na grande maioria das bancas, são os próprios agricultores que atendem o público.
Fabiane Galli é a representante dos consumidores da feira das quartas do Menino Deus no Conselho das Feiras Ecológicas e considera esse um aspecto importante, pois cria um elo de confiança. “Não é uma relação anônima, como quando tu compra no supermercado”, observa.
Depois de anos frequentando as feiras, ela já fez vários amigos. “As crianças vem junto, brincam e se alimentam de coisas gostosas e saudáveis. É um ganha-ganha pra todos nós”, sintetiza.
É também o que acontece com Francisco Siliprandi, frequentador assíduo da feira do Bom Fim. De tantos conhecidos que já fez ao longo dos anos, ele brinca que vai “montar turmas e fazer visitas guiadas”.
O tempo trouxe também conhecimento – e até manhas – para economizar nas compras. “Vou até a ponta e volto, pesquisando preços. Às vezes algum produtor teve uma safra muito boa e pode dar uma diferença grande no valor”, sugere.
Mas o mais importante é saber o “ponto certo” de cada produto. “Por exemplo o maracujá, se não estiver bem murcho, pesa mais, e acaba ficando mais caro”, explica.
BOM FIM, A MAIOR E MAIS ANTIGA
A feira da José Bonifácio, aos sábados pela manhã, é a maior e mais antiga da capital. Acontece desde 1989 e hoje conta com mais de 100 feirantes.
Lorita Rossi foi uma das primeiras a ingressar no grupo, vendendo seus chás quando a feira ainda era mensal. “Eram seis, sete feirantes; só. Nós nos conhecíamos bem, conhecíamos as famílias”, rememora.
Se nesses 26 anos, a feira cresceu e se diversificou, o mesmo aconteceu com sua banca, chamada Sítio Apiquários. “O impulso veio do consumidor, que nos pedia outras coisas. Nós tínhamos apenas 20 variedades, que eram as mais conhecidas. Hoje, trabalhamos com cerca de 120 plantas”, esclarece.
Lorita também vende suas infusões em lojas tradicionais na Capital e na Serra, mas a feira ecológica é, sem dúvidas, o principal negócio: “Nosso trabalho é abastecer a feira, nós vivemos em função disso”, comemora.
“ADUBAR COM MERDA DE VACA ERA COISA DE LOUCO”
O casal José Mariano Matias, o “Jalo”, e Marinês Riva também são da leva de feirantes mais antiga. Há 21 anos, montam banca na José Bonifácio; e há 18, passaram a vender também nas quartas, no Menino Deus.
A família vive em Eldorado do Sul, onde planta hortaliças. Em uma área de dois hectares, eles colhem 300 caixas por semana, somente para as feiras. O excedente da produção é todo vendido para a merenda escolar do município.
Além das hortaliças, Jalo e Marinês produzem também arroz orgânico. A mão de obra é toda familiar, são seis pessoas e nenhuma máquina: todo o processo é feito manualmente, do preparo da terra até a colheita.
Jalo conta que quando a família se mudou para Eldorado do Sul, há 23 anos, os agricultores vizinhos desdenhavam da produção orgânica. “Na época diziam que a gente era louco, adubar com merda de vaca, com palha”, recorda.
Mas com o acréscimo de 30% sobre o valor da saca aos produtores de arroz ecológico que vendam para a merenda escolar, o negócio ficou lucrativo. “Hoje, os que nos diziam loucos estão lá plantando arroz, estão engrenando na produção, que foi valorizada”, completa.
SOLICITAÇÃO PODE PARTIR DE MORADORES OU ENTIDADES
Geralmente o pedido de criação de uma feira chega à Prefeitura através da associação comunitária. Entretanto, outras entidades da sociedade civil podem também fazer a solicitação.
A feira de Petrópolis, por exemplo, foi um pedido do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), cuja sede fica a uma quadra do mais recente ponto de venda de orgânicos na Capital, na praça Ruy Teixeira.
Alguns produtores já comercializavam seus produtos no pátio da entidade, mas a procura era tanta que o espaço ficou pequeno e o sindicato solicitou um local maior, onde a feira pudesse ocorrer aberta ao grande público.
Uma vez feito o pedido para a criação de um entreposto de orgânicos, a Smic consulta o Conselho de Feiras Ecológicas para verificar se existe demanda e produtores interessados – podem participar agricultores instalados em um raio de 200 quilômetros da Capital.
Se houver aprovação, resta aguardar a tramitação burocrática que inclui a emissão de alvarás e inspeções nas propriedades, que precisam atender as exigências da legislação sanitária.
INTEGRANTES DO CONSELHO TOMAM POSSE EM JUNHO
O Conselho das Feiras Ecológicas é formado por representantes dos feirantes, dos consumidores e do poder público. Os feirantes escolhem seus representantes através de eleições – a proporção é de um eleito para cada dez alvarás emitidos.
O mais recente pleito ocorreu em maio e os resultados serão divulgados no dia 25 de junho. Os mandatos tem vigência até 2017.
Para a responsável do Centro Agrícola Demonstrativo da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Smic), Claudia Ache, a importância do colegiado reside em manter o estímulo às feiras.
“Tanto para que o consumidor entenda a importância dessa alimentação, como incentivar o produtor a partir pra uma produção orgânica”, acredita.
A convivência entre agricultores também traz frutos para a organização desse setor. “As feiras estimulam o associativismo, porque pra participar eles tem que fazer parte de algum grupo”, conclui.
A convivência entre agricultores também traz frutos para a organização desse setor. “As feiras estimulam o associativismo, porque pra participar eles tem que fazer parte de algum grupo”, conclui.
SERVIÇO
Quarta – feira:
MENINO DEUS – das 13 às 19h
Av. Getúlio Vargas (no pátio da Secretaria Estadual da Agricultura)
MENINO DEUS – das 13 às 19h
Av. Getúlio Vargas (no pátio da Secretaria Estadual da Agricultura)
PETRÓPOLIS – das 13 às 18h
Rua General Tibúrcio, parte lateral da praça Ruy Teixeira.
Rua General Tibúrcio, parte lateral da praça Ruy Teixeira.
Sábado:
TRISTEZA – das 7h às 12h30
Av. Otto Niemeyer esquina com a Av. Wenceslau Escobar
TRISTEZA – das 7h às 12h30
Av. Otto Niemeyer esquina com a Av. Wenceslau Escobar
BOM FIM – das 7h às 12h30
Av. José Bonifácio, 675
Av. José Bonifácio, 675
MENINO DEUS – 7h às 12h30
Av. Getúlio Vargas (no pátio da Secretaria Estadual da Agricultura)
Av. Getúlio Vargas (no pátio da Secretaria Estadual da Agricultura)
TRÊS FIGUEIRAS – das 8h às 13h
Rua Cel. Armando Assis, ao lado da praça Desembargador La Hire Guerra
Rua Cel. Armando Assis, ao lado da praça Desembargador La Hire Guerra