Mario Rodrigues
consumo
A onda orgânica
Espaços especializados aumentam a oferta de produtos naturais.
No ano passado, 1,1 bilhão de reais foram gastos com orgânicos nos
supermercados do país, um aumento de 8% em relação a 2010
Toda semana, a dona de casa Luisiane Laste recebe em sua
residência, em Alphaville, por meio de um serviço de delivery, uma
seleção de hortaliças e frutas orgânicas (sem adubos químicos,
agrotóxicos nem hormônios) recém-colhidas do pé. Já a estudante de
psicologia Charlene Keiko percorre lojas e frequenta restaurantes com
produtos do mesmo tipo. "Nosso corpo sofre uma influência direta do que
comemos", afirma. Antes restrito a quitandas pequenas e frequentadas por
poucas pessoas, o mercado atrai agora um público bem maior, que busca
alimentos mais saborosos e saudáveis em espaços com melhor serviço e
infraestrutura. O crescimento da procura reflete-se no aumento das
vendas e na diversidade. No ano passado, 1,1 bilhão de reais foram
gastos com orgânicos nos supermercados do país, um aumento de 8% em
relação a 2010. O estado de São Paulo representa 56% do total.
Impulsionada
pelo momento, a oitava edição da Bio Brazil Fair será realizada entre
quinta (24) e domingo no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera.
Com 250 expositores, que vendem de verduras a cosméticos, a feira
pretende atrair mais de 24.000 visitantes, entre revendedores e
consumidores. "Em 2004, nosso primeiro ano, registramos menos da metade
desse movimento", compara a diretora de negócios, Lucia Cristina de
Buone. "Hoje é possível comer, beber, cuidar-se e limpar a casa com
artigos naturais, e isso atrai mais gente para a causa."
Para
ser considerado orgânico, o item deve ter o selo de órgãos licenciados,
como o Instituto Biodinâmico (IBD). Nem sempre os produtos cultivados
sem defensivos químicos preenchem todos os requisitos: esses são
chamados de agroecológicos. O principal lançamento da Bio Brazil Fair,
por exemplo, é a carne suína da marca Korin sem antibióticos nem
hormônios. A novidade é mais natural que as convencionais, mas não tem a
certificação, principalmente porque os animais são tratados com ração
que não é orgânica.
O evento não é o único que oferece uma ampla
variedade. Além da tradicional feirinha que ocorre desde 1991 no Parque
da Água Branca e reúne 39 barracas que comercializam de alface a vinho,
há pelo menos outras oito na capital. No último ano, a prefeitura
lançou duas exclusivas para alimentos sem defensivos químicos: uma em
São Mateus, na Zona Leste, e outra no Parque Burle Marx, na Zona Sul.
Uma terceira, no Parque do Ibirapuera, deve começar a operar até julho.
As
lojas segmentadas também proliferaram. Criada há 25 anos, a rede Mundo
Verde cresceu 21% de 2010 para 2011 no estado, onde atualmente possui 51
endereços — desses, 36 na capital. Na esteira de empreendimentos
charmosos como o Moinho de Pedra, da chef Tatiana Cardoso, que existe há
dezessete anos na Chácara Santo Antônio e engloba loja, café e
restaurante, surgiu o Quintal dos Orgânicos, na Vila Madalena. Aberto em
2010, virou parada obrigatória para os entusiastas. Lá é possível
sentar-se em mesas rústicas, em meio a um pequeno pomar, e retirar
frutas como jabuticaba e romã direto do pé. Além disso, dispõe de mais
de 1.000 artigos 100% naturais, de roupas íntimas a saladas colhidas na
véspera em várias regiões do Brasil. Também há empresas que entregam em
domicílio. Aberta há quatro anos, a Organic Delivery oferece uma série
de cestas pré-montadas, como as preparadas para solteiros e bebês.
Apesar
do aquecimento, o mercado enfrenta problemas que o impedem de prosperar
ainda mais. A principal barreira continua sendo o preço, de 30% a 60%
maior que o dos produtos convencionais. "Os hortifrútis vêm de pequenos
produtores, são cultivados em menor escala e em determinada época do
ano, além de seguir certos critérios que os encarecem", explica Lucia.
Proprietário do Quintal, Nardi Davidsohn acredita que o investimento é
convertido em saúde. "Meus funcionários almoçam aqui e nunca ficam
gripados", diz ele, embora isso não tenha comprovação científica.