TURISMO Notícia da edição impressa de 04/08/2014
Adriana Lampert
ROTA SABORES E SABERES TURISMO/DIVULGAÇÃO/JC
Roteiros que incluem trilhas ecológicas, gastronomia farta, vistas paradisíacas, lazer e descontração integram a Rota Sabores e Saberes, que reúne 13 empreendimentos de quatro municípios do Vale do Caí. Mas a grande estrela do trajeto é a agricultura familiar sustentável, que tem atraído, desde 2007, inúmeros visitantes estrangeiros, além de grupos de estudantes e de terceira idade, famílias em busca de descanso e técnicos ou simples curiosos interessados em aprender sobre manejo agroecológico. Isso porque os passeios incluem o encontro direto com produtores, que têm sido responsáveis em difundir seus conhecimentos sobre o tema.
Gastronomia a base de frutas é um atrativo do Rancho dos Bambus, em Bom Princípio
Base oficial da rota, as cidades de Bom Princípio, Harmonia, Tupandi e Montenegro oferecem ao turista mais do que a possibilidade de entrar em contato com a natureza e o paladar diferenciado e saudável dos produtos orgânicos – presente não só em frutas, como a laranja e o morango, mas também em geleias, licores e pratos típicos das comunidades predominantemente colonizadas por alemães, açorianos e italianos. Há ainda, no roteiro, passagens previstas por museus e locais históricos, onde a preservação da cultura permite ao viajante um rápido resgate de tradições e costumes centenários.
De acordo com uma das empreendedoras do roteiro, Adriana Arlete Mossmann Steffen, a característica mais forte das propriedades envolvidas é que todas mantêm suas atividades originais, focadas na produção limpa. “O turismo é só mais uma vertente do trabalho”, explica a empresária, que é proprietária do Rancho dos Bambus, em Bom Princípio, onde o atrativo principal é a gastronomia. Além de culinária típica da região (gastronomia alemã), oferecida em cafés rurais e almoços – sempre agendados antecipadamente – quem visita a propriedade não pode deixar de se deliciar com a degustação de morangos, que são cultivados em substrato. A passagem pela estufa onde a fruta é plantada inclui uma verdadeira aula sobre como funciona o sistema de produção. Situado próximo ao centro da cidade, o Rancho dos Bambus ainda oferece aos grupos de visitantes produtos coloniais de um empreendimento vizinho: a Família Mossmann. No cardápio, derivados da cana, geleias, pães e cucas.
Em Montenegro, o Sítio Steffen atrai turistas pela possibilidade de tranquilidade, silêncio e harmonia com a natureza. Para desfrutar das atividades no local, é preciso agendamento antecipado. Para se ter uma ideia da demanda, de outubro a dezembro de 2013, o empreendimento só não contou com visitantes durante sete dias de chuva. “Foi muito concorrido, diariamente estávamos envolvidos com a recepção”, recorda o proprietário, Jean Carlo Steffen. “Este ano, por causa da Copa, diminuiu um pouco. Mas a demanda é grande nos fins de semana.”
Com passeios de carroção pela propriedade onde a atividade principal é a citricultura, os turistas podem saborear frutas colhidas na hora, diretamente do pé, além de observar o trabalho e a produção orgânica, pescar nos açudes, andar a cavalo e fazer trilhas a pé e de Jipe. No almoço são servidos carne de gado, porco, matambre, massa, aipim, arroz, feijão, diversas saladas e suco. À tarde, um café colonial com direito a pães, biscoitos, queijo, linguiça, mel, bolo, entre outros, fecham o dia com muita comilança. Tudo isso por R$ 28,00 por pessoa. “Ainda tem outras alternativas de lazer, como cancha de bocha e de futebol, e pracinha para as crianças”, destaca Steffen.
Segundo o empresário, a adesão ao projeto de abrir a propriedade para visitação faz parte do sonho de, no futuro, poder contar com a administração do filho. “Tem tido um bom retorno, e agrega renda. Com certeza faz a diferença, mas ainda queremos mudar algumas coisas e melhorar a divulgação.”
De acordo com proprietária do Rancho dos Bambus, a adesão dos turistas à Rota Sabores e Saberes deve se intensificar após consultoria que o grupo passou junto ao Sebrae/RS. “No início, houve uma demanda intensa, depois sofremos um período de queda. Mas agora, após a capacitação e apoio do Sebrae, com um material de divulgação mais qualificado, estamos apostando no aquecimento da demanda.”
Roteiro mostra funcionamento das propriedades
Principal responsável por difundir os roteiros integrantes da rota, a agência receptiva Estação Turismo, de Montenegro, costuma vender pacotes do produto para cerca de três a quatro grupos de visitantes por mês. “Nosso passeio inicia em Bom Princípio, passando por Harmonia, Tupandi, Pareci Novo (onde é feito apenas um City Tour) e Capela de Santana, para acabar em Montenegro”, resume a guia Rosane da Silva Antunes. Segundo ela, o valor do pacote de turismo agroecológico dependerá do número de pessoas no grupo, com preço médio em torno de R$ 175,00. O passeio dura em torno de um dia, mas pode ser feito em dois. Neste caso, os visitantes passam uma noite no Hotel Kleinsberg, a 1,2 mil metros do Centro de Bom Princípio. “A vista de lá é incrível, e o ambiente é silencioso e exuberante”, afirma Rosane.Segundo a guia da Estação Turismo, o perfil dos turistas varia de acordo com o foco principal da viagem. “Tem muitos grupos de estudantes ou pessoas ligadas a intercâmbios técnicos, que vêm ao Vale do Caí para conhecer o trabalho feito na agroindústria local.” Exemplo de empreendimento que atrai este tipo de público é a cooperativa Ecocitrus, em Montenegro, que trabalha com produção, processamento, industrialização, comercialização e exportação de cítricos. “Estes cenários diferentes ajudam alunos de diversos cursos de especialização”, explica o gerente de Relações Institucionais da cooperativa, Ernesto Carlos Kasper.
Também a Agrofloresta do Inacinho, em Tupandi, que abriga uma plantação de citrus no meio da floresta, recebe muitas escolas. Lá os estudantes fazem caminhadas, e aprendem sobre o cultivo das frutas bem como o ciclo de vida dos sistemas agroflorestais, que alternam árvores de laranjas e bergamotas, com espécies de mata nativa. O proprietário, Inácio Rohr, abriu a casa aos visitantes, oferecendo almoço caseiro, suco e Spritzbier (bebida à base de limão) à vontade, e vendendo suas frutas, que podem ser levadas diretamente do pé, com a safra de inverno em franca produção. “É possível viver e ter lucro apenas com o cultivo ecológico”, garante Rohr. “Mas o mais importante é passar adiante esse conhecimento. Por isso gosto muito de receber as pessoas”, comenta.
Antigo moinho colonial é atração turística
Um dos pontos altos da Rota Sabores e Saberes inclui o resgate histórico possível em locais como a Casa da Atafona, que fica na localidade de Santos Reis, no interior de Montenegro. O proprietário, Martim Maurer, restaurou e reconstruiu um moinho e uma roda d’água, responsáveis pela produção de farinhas de mandioca, amendoim e milho, que remontam ao século XIX. Além disso, reabriu a antiga casa da família para expor documentos e fotos históricas, permitindo que hóspedes utilizem os objetos e utensílios de época.“Aqui se pode dormir em uma cama de 150 anos, com mais qualidade que as camas de hoje”, garante Maurer. O local tem capacidade para hospedar 50 pessoas, e conta ainda com restaurante, onde é servida comida de Kerb alemão. Entre as atividades de lazer, o visitante pode optar por banhar-se em represas de água, percorrer trilhas ou fazer passeios de carroças. “Durante todo o ano, recebemos muitos turistas de outros estados, e inclusive de fora do País, como alemães e franceses.”