Saiba como pesquisadores brasileiros deram cores tão diferentes a essas frutas e legumes
“A melancia de cor amarela existe em países de clima mais frio, como o Japão”, conta o cientista Flávio de França, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Melancias de polpa amarela ocorrem na natureza, porém, não são doces e crocantes como a melancia vermelha que conhecemos”. A melancia amarela, contudo, tem uma vantagem: é rica em betacaroteno, presente apenas em vegetais amarelos e alaranjados. Então, os pesquisadores decidiram unir os benefícios das duas variedades, com uma técnica chamada de melhoramento genético.
A nova melancia amarela é ‘filha’ de uma ‘mãe’ amarela com um ‘pai’ vermelho. Para quem não sabe, muitas plantas têm ‘pai’ e ‘mãe’, representados pelas flores, que podem ser de sexo masculino ou feminino. Em geral, o encontro entre duas flores de sexos opostos ocorre quando um inseto, uma ave ou o vento carrega o pólen da flor masculina à feminina. Com essa união, vemos nascer, em semanas, um fruto, com uma ou várias sementes que, se plantadas, dão origem a novas plantas, que vão crescer e gerar novas flores… Aí, o ciclo se repete!
Na Embrapa, os agrônomos fizeram o papel de polinizadores, promovendo o encontro de uma flor masculina nascida a partir de sementes de melancia vermelha com uma flor feminina nascida a partir de sementes de melancia amarela. Desse casamento nasceu uma melancia amarela, com o gosto ainda sem graça, mas repleta de sementes.
Essas sementes germinaram e deram origem a várias plantas com várias flores, que foram cruzadas entre si e geraram novos frutos. No meio dessa prole, a equipe de Flávio observou quais melancias tinham as características que eles desejavam. Somente os frutos que atenderam aos pré-requisitos tiveram suas sementes plantadas.
Na geração seguinte de melancias, o procedimento foi repetido, e assim por diante, até se chegar a uma prole com todos os frutos cheios de betacaroteno, doçura, suculência e… leveza. Sim, os agrônomos também queriam obter uma melancia menor, mais fácil de carregar, cortar e armazenar. Por isso, a nova melancia amarela pesa em média quatro quilos, e não dez quilos como as vermelhas. Além disso, a nova variedade fica madura mais depressa, e pode ser colhida cerca de 60 dias após o plantio, enquanto a outra leva 80 dias. “Isso deixa a fruta menos exposta a doenças e pragas”, diz Flávio.
Todo esse processo de seleção de frutos e sementes permite que se reproduzam espécies com características vantajosas para as pessoas. Além de desenvolver alimentos mais nutritivos, o método pode adicionar atrativos àqueles que não fazem muito sucesso: este é o caso da abóbora “brasileirinha”, que é verde-e-amarela, e da batata-doce laranja, também pesquisadas pelos agrônomos da Embrapa.
Então quer dizer que, se os agrônomos quiserem, eles podem criar uma superfruta, com todas as vitaminas e ainda por cima de uma cor bem bacana? Nem tanto. “Todos os alimentos têm seu valor, tanto no paladar quanto nos nutrientes”, explica Flávio. Não é porque inventaram a melancia amarela que vamos deixar de comer a vermelha, até porque esta é rica em outras substâncias importantes. Por outro lado, é por isso também que os cientistas querem encontrar uma linhagem só de melancias com polpa laranja!
Ficou com vontade de experimentar essas novidades? Então, saiba que elas ainda precisam ser testadas e é necessário plantar mais sementes até que esses alimentos estejam disponíveis nos supermercados. Enquanto isso, dê uma chance aos vegetais tradicionais! Que tal um bom prato de salada, com alface, tomate, beterraba e cenoura?
http://chc.cienciahoje.uol.com.br/melancia-amarela-abobora-verde-e-amarela-batata-doce-laranja/