segunda-feira, 25 de abril de 2022

Como cultivar fisális

Fonte: revista jardins

Apresentação

Nomes comuns: Physalis, fisális, alquenquenje, cereja-de-judeu, capota, lanterna chinesa, farol-do-peru, tomatinhos, tomate-de-capuz, capuchinhos e tomate-silvestre.
Nome científico: Physalis peruviana L, Physalis pruinosa, P. ixocarpa, P. philadelphica, a espécie Palkekengi (frutos vermelhos) também tem algum interesse a nível comercial, mas apenas para efeito ornamental.
Origem: Centro e Sul da América (México, Colômbia e Zona dos Andes)
Família: Solanácea
Factos Históricos/Curiosidades: O “tomatillo”, produto muito utilizado na culinária mexicana é um physalis que é cultivado e consumido desde o tempo dos astecas. A Colômbia é o principal produtor mundial e exporta muito para os países Europeus. Só em 2015 é que Portugal começou a produzir este fruto para  comercialização em maior escala.
Caraterísticas: Planta herbácea que em meio natural rasteja e pode alcançar 1,0-1,8 metros de comprimento. Tem folhas lanceoladas e flores amareladas com um sistema radicular superficial, mas extenso.
Fecundação/Polinização: Flores amarelas pálido, dura 10 semanas desde a floração á colheita. A polinização é entomófila.
Ciclo Biológico: Anual (zonas frias) ou vivaz (zonas de clima temperado, dura 3-4 anos).
Variedades mais cultivadas: As variedades mais cultivadas são “Giant Poha Berry” , “Golden Berry”, “Giallo Grosso”, “Goldenberry”, “Yellow Husk”, “Toma Verde”, “De Milpa”, “Purple”, “Tomate fraise”, “Golden Nugget”, “Purple Husk”, “Reendidore”, “Verde Puebla”, “Aunt Mollys”.
Parte Comestível: Frutos globulosos com diâmetro entre 2-3,5 cm e peso entre 6-14 g de cor amarelo-alaranjado ou laranja-avermelhado, com sabor aromático.

Condições Ambientais

Solo: Cresce bem em solos pobres, mas prefere solos bem drenados ricos em matéria orgânica e textura arenoargilosa com pH óptimo de 5.5-7.0.
Zona climática: Tropical, sub-tropical e temperadas.
Temperaturas: Óptimas: 14-25 oC Min: -3 oC Max: 35 oC Temperatura do solo (germinação): 25 oC
Exposição Solar: Semi-Sombra ou Sol direto
Humidade relativa: Óptima 75%
Precipitação: 1500 mm/ano
Altitude: até 2000 metros

Fertilização

Adubação: Composto e estrume de peru ou porco uma vez por ano. É uma rústica, não necessita grandes adubações.
Produz bem em solos pobres e não precisa de adubos azotados, pois leva ao desenvolvimento da folhagem e à pouca produção de frutos.
Adubo Verde: leguminosas de fruto (faveira, ervilheira e feijoeiro)
Exigências nutritivas: 1:1:1 (N:P:K)

Técnicas de Cultivo

Preparação do solo: Lavrar o solo superficialmente 10-15 cm) com uma ferramenta do tipo “actisol” ou uma fresa.
Data da sementeira/Plantação: Primavera (maio) à temperatura de 25 oC. Poderá ser feita em estufa no fim do inverno (março-abril) e transplantar na primavera para o exterior.
Tipo de Plantação/sementeira: Por semente, em tabuleiros de sementeira ou pequenos vasos (alta taxa de germinação 80-95%) Tempo de Germinação: 15-20 dias Profundidade: 0,6-1cm Compasso: 0,6-0,8 na linha x 1,5-1,8 cm entre as linhas.
Transplantação: Quando a planta tiver 15-20cm de altura ou 8-10 folhas.
Rotação: de 3 em 3 anos Consociações: evitar as Solanáceas (tomate, batata, pimento, beringela, etc.) e as leguminosas.
Plantas companheiras: Espargos, alfaces, cenouras, basilico, alho, salsa e cebola.
Amanhos: Montar uma estrutura com postes de 1-1,5 m, unidos por arames; podar a seguir à colheita até á altura de 20-30 cm. Eliminar os ramos que já frutificaram; colocar “mulching” ou uma tela plástica para combater as ervas infestantes.
Regas: Gota-a-gota Entomologia e patologia vegetal.
Pragas: Pulgões, nemátodos  e mosca branca.
Doenças: Botyritis, e algumas viroses (mosaico e murchidão).
Acidentes: Planta muito sensível a ventos fortes, excesso de humidade e geadas.

Colheita e Utilização

Quando colher: Desde o fim do verão até novembro quando chega o frio. O fruto só é colhido quando o “capucho” seca e cai e o fruto muda de cor.
Produção: Cada planta produz 2 a 4 Kg/ano e cerca de 300 frutos/ano/ planta ou 4-7 t/ha
Condições de armazenamento: 5-13ºC com humidade de 85-90%. Os frutos podem durar 3 semanas.
Valor nutricional: Excelente fonte de vitamina A e C e vitamina PP, carotenoides, ferro e fósforo.
Época de Consumo: Verão-outono.
Usos: Consumida ao natural, em pratos de peixe e crustáceos, compotas, doces, licores, geleias, gelados, bombons, saladas de fruta ou em molhos para saladas e carnes.
Propriedades medicinais: Diuréticas, antioxidante e diminuição da pressão arterial.
Conselho de especialista: Esta planta pode alastrarse ou multiplicar-se noutras zonas, já que os pássaros gostam das bagas e transporta-as para outros locais. No nosso clima adapta-se mais as zonas do sul e centro do país, pois não gosta de temperaturas baixas. É uma planta que se desenvolve em terrenos pobres e tem algum interesse ornamental. Os frutos verdes e as folhas são tóxicas.
Fotos: Pixabay, Pedro Rau

Manual de Sobrevivência para o Século XXI - Água que Vem do Céu - Ep. 2

domingo, 24 de abril de 2022

Profissional da conservação além da Universidade: produção de alimentos ...


O ator Marcos Palmeira dispensa apresentação, não é mesmo? Mas seu lado conservacionista talvez seja uma boa novidade para você! Nos últimos anos, Marcos decidiu se dedicar a um novo projeto: os Sistemas Agroflorestais e a produção de alimentos orgânicos. Ele transformou a Fazenda Vale das Palmeiras em um centro de produção de alimentos e de capacitação, além de propor um grande projeto de recuperação ambiental voltado para toda a sociedade. Este vídeo foi produzido para a II Conferência Nacional de Biologia da Conservação, organizada pela Bocaina Biologia da Conservação em 2016. Os vídeos da CNBC estão pela primeira vez disponíveis para visualização no Youtube, como iniciativa para a divulgação da ciência durante o isolamento gerado pelo COVID-19. Para saber mais, acesse: https://biologiadaconservacao.com.br/... http://cnbc.com.br/

segunda-feira, 18 de abril de 2022

AS MELHORES MINHOCAS DO MUNDO ! MOSTRANDO ALGUNS TIPOS QUE EXISTEM .

Como Fazer Compostagem em Casa ou no Apartamento??


Sabe aquelas sobras da cozinha de quando se prepara uma refeição? Muito melhor que jogá-las no lixo comum, é dar a esses restos uma destinação ecológica conhecida como compostagem, técnica que transforma resíduos em adubos para jardins e hortas.

Na prática, a compostagem nada mais que a degradação da matéria orgânica por micro-organismos. No método podem ser utilizados restos orgânicos como folhas, cascas de verduras, frutas, ovos e serragem. Restos de comida também são bem vindos, mas cuidado com alimentos de origem animal, tais como carnes, pois podem atrair pragas.

Segundo o biólogo Carlos Eduardo Cereto:  “É possível fazer composteira em casa, mas também existem empresas especializadas nesse tipo de serviço. As duas formas podem ser utilizadas. O importante é que além do destino correto dado para o lixo, o adubo produzido pode ser usado em hortas e jardins”. Cereto também acrescenta que: “O uso de adubo orgânico conserva as propriedades naturais do solo aumentando a vida útil do terreno. Ao contrário do adubo químico que desgasta o solo mais rapidamente e causa vários problemas de produtividade”.


Como fazer:

É necessário um espaço de, no mínimo, um metro cúbico para se fazer uma composteira doméstica. Em caso de espaços menores como apartamentos, a compostagem pode ser feita em caixas. Ao contrário do que muitos pensam, na compostagem não é indicado colocar terra, as camadas são feitas de lixo orgânico e outra de serragem ou folhas secas.

O tempo de decomposição depende do tipo de lixo e pode demorar de 9 a 16 semanas para decomposição total do lixo orgânico, que em forma de adubo, pode ser usado em hortas, jardins. Mas, deve ser evitado em hortas, caso exista na compostagem dejetos de animais.

1. Quem tem espaço com chão de terra no quintal pode separar um canteiro para fazer a compostagem. Quem não tem, pode improvisar usando um recipiente grande, lembrando de fazer alguns furos laterais para a saída de ar.

2. Os resíduos podem ser colocados em camadas e não precisam ser separados por tipo, mas é interessante colocar em camadas alternadas de resíduos (cascas de frutas, legumes, ovos e outros), com camadas de folhas, palha, serragem ou mesmo terra. Para acelerar a decomposição e evitar o aparecimento de moscas, recomenda-se cobrir tudo com uma lona.

Em espaços menores, a compostagem pode ser feita em caixas -


3. Regar o conteúdo de dois em dois dias e revirar o recipiente com alguma ferramenta de jardim é importante para arejar o material em decomposição. No caso da composteira feita no chão, ela deve ter mais ou menos 60 cm de altura e 1 metro de largura. A cada 15 dias é importante virar o monte, revolvendo os materiais para facilitar a decomposicão. Em razão da ação de bactérias e fungos, o monte pode esquentar em até 60 graus, por isso devemos molhar de vez em quando, para diminuir a temperatura e manter a umidade, porém sem encharcar.

4. Após algumas semanas o material adquire uma coloração marrom escura, semelhante ao marrom café. Dá para perceber que o composto está pronto quando não se percebe mais um "cheiro ruim" e sim um "cheiro de terra", além disso, a aparência é bem homogênea e a temperatura fica igual à do ambiente.
5. Depois de pronto, o composto orgânico já pode ser misturado à terra do jardim, da horta e dos vasos.
 Disponível em Revista Ecólogico

Mulching ou cobertura morta. O QUE É COBERTURA MORTA ?

 





Ontem aproveitei esta folhas para fazer uma cobertura morta no canteiro do jardim. 

O QUE É COBERTURA MORTA ?

Cobertura orgânica – ou, em inglês 'mulch' – é qualquer tipo de resíduo vegetal que se acumula sobre a terra. Bactérias, fungos e outros microorganismos usarão esse material como alimento, em um processo que conhecemos como decomposição – a maneira natural de retornar à terra o material orgânico utilizado pela geração anterior.


A cobertura morta orgânica - 'mulch' - não apenas conserva umidade, mas também alimenta as plantas, as minhocas, micróbios e outras espécies de vida no solo. A matéria orgânica decomposta por estas várias formas de vida facilita a aglutinação das partículas do solo em uma estrutura mais grumosa, que retém melhor a água e os gases necessários para a vida das plantas.



As pessoas podem adaptar técnicas de “mulching” às suas práticas culturais habituais, em hortas e no paisagismo, com o uso do material orgânico disponível. O grande interesse na prática dessa cobertura do solo deriva de vários fatores: economia de trabalho, vantagens para as plantas, reutilização adequada para o que era considerado “lixo”.


A prática de manter sempre coberta a terra de hortas e jardins não realiza milagres instantâneos, mas certamente auxilia as plantas a crescerem e se desenvolverem melhor, e torna todo o trabalho de jardinagem mais fácil. Esses benefícios ocorrem em qualquer clima, frio ou quente, seco ou úmido.


O Mulch pode ser incorporado a cada ano, mas dois fatores devem receber nossa atenção: o estado de decomposição da cobertura anterior e a salinidade do material utilizado, que pode nos causar problemas se usado sem moderação.


Precisamos prestar atenção à eventual necessidade de adicionarmos nitrogênio (N) ao mulch, pois o material fresco utiliza o nitrogênio disponível para se decompor,  que poderá ser retirado das plantas próximas. Adubos de lenta disponibilidade são a melhor solução, de acordo com a recomendação do fabricante.


Exemplos de mulch orgânico:
  • Restos de poda – barato, lembrar de picar antes de aplicar.
  • Cascas de pinho – dão um aspecto bonito ao jardim.
  • Restos de grama – somente devem ser aplicados depois de secos ou de passarem por processo de compostagem.
  • Musgos – têm a tendência de impermeabilizar o solo.
  • Agulhas de pinheiro – são bonitas e duram muito tempo. Fornecem nutrientes que, ao se decomporem, acidificam a terra, sendo boas para plantas que gostam de terras ácidas, como azaléias, gardênias, hortênsias.
  • Serragem – se a serragem fresca for incorporada ao solo, um suplemento de N é imprescindível.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Menos carne vermelha, mais variedade: dieta mista pode ser caminho para sustentabilidade e segurança alimentar. usp

 

Menos carne vermelha, mais variedade: dieta mista pode ser caminho para sustentabilidade e segurança alimentar

Pesquisa da USP em Piracicaba mostrou que mudanças simples na alimentação já poderiam contribuir para mitigação das mudanças climáticas

  Publicado: 04/04/2022  Atualizado: 05/04/2022 as 11:20

Autor: Fabiana Mariz

Arte: Guilherme Castro/Jornal da USP

Se o consumo de carne vermelha no Brasil fosse substituído por uma alimentação diversa, composta de proteínas animal e vegetal, 809 milhões de hectares (Mha) poderiam ser poupados, 1 bilhão de toneladas de carbono equivalente deixaria de ser emitido e 720 trilhões de litros de água poderiam ser economizados. Esses são alguns dos resultados do mestrado de Ana Chamma, realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP.

Sob orientação de Gerd Sparovek, professor da Esalq e coordenador do Geolab, Ana, que é engenheira sanitarista e ambiental, desenvolveu seu trabalho com o objetivo de apresentar uma nova abordagem para garantir a segurança alimentar da população brasileira e, ao mesmo tempo, a sustentabilidade do País.

Outro dado interessante foi que a dieta da região Centro-Oeste, baseada em carne bovina, causa os maiores impactos, tanto no uso da terra como no uso da água. Além disso, emite mais gases de efeito estufa no ambiente.

Já a baseada em peixes e frutos do mar, consumida em regiões nordestinas, é a que gera os menores danos. 

O consumo alimentar tende a crescer nas próximas décadas, especialmente os de origem animal, ao mesmo tempo em que as áreas disponíveis ficarão cada vez mais escassas. Ana disse ao Jornal da USP que as soluções existentes para enfrentar esse problema geralmente estão focadas na expansão de novas áreas para produção ou no aumento do rendimento de terras agricultáveis, sem considerar a real demanda por alimentos. “Quando se pensa em mudanças climáticas, geralmente se olha para o transporte, para a energia, mas a alimentação também é um ponto que merece a nossa atenção.”

“A inversão de lógica veio da Ana. Ela entendeu que, com a inversão, os resultados seriam mais facilmente comunicados e entendidos por não especialistas no assunto. E deu certo, foi uma grande ideia”, comemora Sparovek. 

Pensando nisso, a pesquisadora propôs uma nova metodologia, denominada “da mesa ao campo”. Ao invés de se pensar na expansão de ofertas de alimentos, Ana focou em reduzir o impacto ambiental por meio da demanda alimentar. 

Ana Letícia Chamma - Foto: Reprodução/Facebook

Ana Letícia Chamma - Foto: Reprodução/Facebook

Na primeira parte, testou-se a possibilidade de expandir as áreas para a produção agrícola a partir de uma dieta urbana brasileira, definida pelos dados contidos na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/2009. 

O uso da terra, as pegadas de carbono (medida que calcula a emissão de carbono equivalente na atmosfera por uma pessoa, atividade, evento, empresa, organização ou governo) e hídrica (indicador do volume de água doce gasto na produção de bens e serviços) foram analisados em oito cenários, que consideram diferentes tipos de níveis de produtividade e de perda de alimento. 

Para o cenário que representa o sistema atual, estimou-se que 292 Mha devem ser utilizados no Brasil somente para atender às necessidades da população. Dados do MapBiomas mostram que, atualmente, a agropecuária ocupa cerca de 30% do território nacional (algo em torno de 225 Mha), sendo 167 Mha compostos de áreas de pastagem, 64 Mha de áreas agrícolas e 24 Mha de áreas de uso não definido (uma espécie de mosaico de pastagem e agricultura). 

Se considerarmos a projeção de crescimento do número de habitantes para o ano de 2050, e caso nada se altere, o uso requerido pela dieta urbana seria de 321 Mha.

Já em situações em que as medidas de redução de perda de alimentos e ganho de produtividade foram adotadas, 53 Mt de carbono equivalente e 43 trilhões de litros de água poderiam ser preservados no Brasil anualmente.

Em uma outra etapa, a engenheira investigou de que forma as diferentes dietas brasileiras provocam danos ao planeta e se uma mudança de hábitos alimentares trazem algum efeito positivo. 

“Acreditamos que mudanças simples, como consumir diferentes tipos de proteínas em uma semana, poderiam minimizar esses danos”, afirma Ana. “Integrar medidas de intensificação na produtividade agropecuária e redução na perda de alimentos, aliados à modificação de hábitos alimentares, é uma alternativa para mitigação de mudanças climáticas”. 

Desafios

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) prevê que 9 bilhões de pessoas habitem a Terra no ano de 2050 , ou seja, teremos ao menos 1 bilhão de pessoas a mais no planeta necessitando de alimentação daqui a 30 anos.

Garantir alimentos suficientes para essas pessoas – de forma qualitativa e quantitativa – e que eles sejam oriundos de sistemas sustentáveis é um dos grandes desafios do século 21. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – um apelo da Organização das Nações Unidas à ação para acabar com a pobreza, proteger o planeta e assegurar que todas as pessoas tenham paz e prosperidade – por exemplo, são compostos de 17 metas. Uma delas é a promoção do Fome Zero no mundo. 

Dados apontam que, no Brasil, de 1985 a 2018, as áreas destinadas à agricultura aumentaram 2,5%, e as pastagens cresceram 37%. Já as áreas de vegetação nativa caíram 13%. 

Foi pensando em todo esse cenário – e também em apresentar uma solução sustentável para o planeta -, que Ana desenhou o seu estudo. O primeiro capítulo teve como objetivo compreender a real necessidade do uso dos recursos para a produção de alimentos a partir da demanda alimentar da população. 

Figura 1. Etapas metodológicas para a quantificação de variáveis ambientais seguindo a abordagem “da mesa ao campo” – Foto: Ana Letícia Sbitkowski Chamma

A dieta adotada pela pesquisadora foi a urbana – por representar a região onde mora a maior parte da população brasileira – e era composta de cinco refeições diárias (café da manhã, almoço, lanche da tarde, janta e ceia) baseadas nas quantidades de alimentos registrados pela POF. 

Foto: Ana Letícia Sbitkowski Chamma

Em seguida, a pesquisadora fez a correspondência entre esses produtos e os dados de produtividade. Na etapa seguinte, integrou essas informações com as de variáveis ambientais disponíveis em outra pesquisa, feita por Josefa Garzillo, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. 

Foram criados oito cenários, que combinaram produtividades atuais e futuras e níveis de perdas de alimentos em todo o sistema agroalimentar. 

O primeiro deles levou em consideração a produtividade para os anos de 2017/2018 sem nenhuma perda no sistema. “É um cenário fictício, mas importante para compreender o efeito das perdas de alimentos na geração dos impactos ambientais abordados”, explica Ana.

Já os subsequentes foram simulados utilizando-se a produtividade dos anos 2017/2018 e as perdas em diferentes níveis (ambiente doméstico, na produção agrícola, na colheita, armazenamento, processamento e empacotamento, varejo e distribuição). 

Segundo Sparovek, o desafio, do ponto de vista metodológico, foi maior do que normalmente se vê em dissertações de mestrado. “A combinação de dados que usamos não é fácil de ser feita, exige muito conhecimento sobre as bases e de operações em banco de dados. Ana conseguiu fazer isto por ter se dedicado à iniciação científica desde a graduação e ter acompanhado outros trabalhos do nosso laboratório”, relata o orientador.

Para este sistema, estimou-se que 292 Mha devam ser utilizados no Brasil somente para o atendimento das necessidades da população brasileira. Levando em conta a projeção de crescimento populacional para o ano de 2050, o uso requerido pela dieta urbana seria de 321 Mha, caso nada se altere. 

Por meio da redução de perdas e ganho de produtividade, 53 Mt de carbono equivalente poderiam ser reduzidas e 43 trilhões de litros de água preservados. Para os cenários otimizados, caso houvesse a intensificação da pecuária e/ou redução de perdas de alimentos, a expansão de áreas não seria necessária para atender às demandas futuras (2050).

“A situação perfeita viria do aumento de produtividade aliado à diminuição das perdas no sistema”, explica a pesquisadora.

Dietas por região e campanhas

No meio do caminho, a engenheira identificou a quantidade de terra necessária para gerar produtos de origem animal e vegetal. Para a produção animal, seriam necessários cerca de 195 Mha e para a vegetal, 48 Mha. “É uma diferença muito grande”, diz Ana. “Nesta etapa, conseguimos pistas sobre qual dieta seria mais sustentável.” 

O segundo capítulo teve como objetivo identificar a magnitude dos impactos gerados pelo consumo de alimentos, tais como o uso da terra, a emissão de gases de efeito estufa e os recursos hídricos. Além disso, buscou-se compreender se a mudança de hábitos alimentares poderia ter alguma relevância no controle das mudanças climáticas. 

Para essa etapa, a metodologia adotada foi a mesma. O banco de dados foi ampliado e houve a elaboração de 17 dietas, divididas em quatro grandes grupos: regionais, situação domiciliar, classe de renda e modelos. “Todos os cardápios continham o mesmo consumo calórico, mas com a introdução de uma proteína diferente em cada um deles”, explica.

Foto: Ana Letícia Sbitkowski Chamma

Quatro cenários foram simulados e o efeito de duas campanhas que incentivam a mudança de hábitos alimentares foi analisado. 

Segunda sem carne, realizado em parceria com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SBV), busca informar e conscientizar a população sobre os impactos do uso de produtos de origem animal na sociedade, na saúde, nos animais e no planeta, além de incentivar a substituição de carnes por vegetais ao menos uma vez na semana. 

Já a campanha Less is More – Reducing Meat and Dairy for a healthier life and planet, lançada pelo Greenpeace, quer reduzir em 50% o consumo de todos os tipos de carne e derivados em todo o mundo até 2050. 

Menos carne vermelha, mais sustentabilidade

As análises das dietas regionais mostraram que o cardápio da região Centro-Oeste do País causa os maiores impactos, tanto no uso da terra quanto na emissão de GEE e no uso da água, devido ao maior consumo de proteína bovina no cardápio. O consumo exige uma área 1,4 vezes maior do que as dietas no Norte, Sul e Sudeste e 2,5 vezes maior do que a da região Nordeste, que apresenta os menores impactos devido ao consumo de peixe. 

Os impactos gerados pelo consumo alimentar de diferentes grupos de classe de renda e situação domiciliar, bem como das regiões Norte, Sul e Sudeste, não apresentaram variação significativa. 

Tomando como referência a dieta da região Centro-Oeste, se o melhor cenário fosse adotado, 54 m2 diários per capita poderiam ser reduzidos para 29,1, ou seja, 1,8 vezes menos. Como os impactos nas pegadas hídricas e de carbono dependem do nível de perda de alimentos no sistema, no cenário em que ocorre a redução de perdas, 0,3 mil litros de água poderiam ser poupados e 0,5 kg de carbono equivalente por dia, por cada indivíduo, deixaria de ser emitido.

Dietas alternativas, principalmente as que consomem quantidades pequenas de carnes vermelhas, poderiam, se amplamente adotadas, reduzir a emissão de GEE na agricultura, reduzir a expansão de terra e gerar pegadas hídricas e de carbono muito menores. 

O grande consumo de carne bovina na dieta impacta 18 vezes mais o uso da terra do que uma à base de plantas.  “Me lembro que eu fiz um paralelo entre os extremos: se toda a população só comesse carne vermelha, seriam necessários quase 800 milhões de hectares por ano para dar conta dessa demanda; para a dieta vegana, 50 milhões de hectares seriam suficientes”, conta Ana.

A pesquisadora ressalta, ainda, que não precisamos ser tão radicais. “Não queríamos dar soluções totalmente fora da realidade. Se, durante a semana, consumíssemos proteínas animais diferentes em cada dia, dois dias de cardápio vegetariano e um dia de vegano, esse mix traria um resultado muito legal”, diz Ana. “Além disso, ter programas de conscientização em escolas e outras instituições, por exemplo, ajudaria a melhorar os resultados.”

Sparovek disse ao Jornal da USP conscientizar a todos que as escolhas das dietas impactam o ambiente de formas diversas é muito mais fácil.  “Temas mais abstratos e duros, como emissões de gases de efeito estufa ou biodiversidade, dificultam o entendimento”, garante o professor. “Esse conhecimento pode ajudar as pessoas a entenderem as conexões das suas escolhas, não só em relação às dietas, mas de outras dimensões do seu modo de vida com as questões ambientais.”

“Medidas que diminuam a perda de alimentos também devem estar no radar dos formadores de políticas públicas. No mundo, 1,3 bilhão de toneladas vão para o lixo anualmente. Muita gente não passaria fome”, conclui.

Mais informações: e-mail anachamma@usp.br, com Ana Letícia Sbitkowski Chamma


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A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.

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