Eleveção dos índices sociais e econômicos freou o exôdo rural e reduziu a distância entre o campo e a cidade
Foto:
Hugo Dalpizzol / Especial
Joana Colussi
Antes um caminho quase natural, a decisão dos jovens em migrar ou não
para as cidades agora é cercada por um contexto alçado pelo agronegócio brasileiro. Espalhada pelo interior do país, a riqueza da produção de alimentos elevou índices sociais e econômicos e reduziu a distância entre o campo e a cidade.
Com oportunidades de renda e qualidade de vida, a nova geração ligada
ao meio rural vislumbra um futuro promissor também nas propriedades que
fazem o Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho inflar com reflexos de
supersafras e crescente produção animal.
– O jovem que decide apostar no meio rural enxerga a rentabilidade do negócio. E essa oportunidade lhe permite ter qualidade de vida – analisa Pedro Selbach, diretor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Docente há 35 anos, Selbach acompanha a mudança de perfil dos jovens que buscam conhecimento acadêmico na área agrícola:
– Hoje, 50% dos estudantes vêm do Interior e 50% são de grandes centros urbanos. Há 30 anos, a maioria era do Interior e, majoritariamente, homens.
Por décadas, a falta de perspectivas no campo exportou milhares de jovens para a cidade – de onde dificilmente saíam. O resultado, ainda verificado, é o crescente êxodo rural. No entanto, o acesso a recursos básicos, como educação, saúde e tecnologia, fez a migração deixar de ser fundamental para se alcançar a independência financeira.
– A ideia de que campo é lugar de atraso é ultrapassada. O avanço da agricultura fortaleceu entre os jovens o orgulho de ser agro – diz Rosani Spanevello, professora do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Seja pela forte ligação com a terra ou para suceder familiares, grande parte dos jovens agora manifesta o desejo de ficar no campo. Mas ainda que 69% dos adolescentes da agricultura familiar não queiram migrar para grandes cidades, conforme dados do pesquisador Nilson Weischeimer, na prática, a decisão passa por questões bem pontuais.
– Os jovens que ficam ou retornam querem autonomia e liberdade para tomar decisões. A abertura dos pais é fundamental para atenuar conflitos de gerações – aponta Vera Carvalho, assistente técnica da Emater.
Pais e filhos devem ter funções definidas
Dividir atividades e renda dentro da propriedade foi o modelo encontrado pela família Signori para Alessandro, 25 anos, retornar a São Pedro das Missões, no Noroeste, após formar-se em Zootecnia. Enquanto o pai, José Signori, 57 anos, administra cem hectares de lavoura, o jovem responde pela produção leiteira.
– Recebi propostas de emprego em indústrias e comércio quando me formei. Mas meus pais estavam sozinhos, trabalhando muito. Optei por aplicar meus conhecimento junto deles – conta o jovem, que pretende expandir a produção com melhoria na qualidade dos animais.
O fortalecimento das agroindústrias também tem ajudado a seduzir jovens do campo, diz Douglas Cenci, coordenador da Juventude Estadual da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul).
Curso concluído, é hora de voltar
Formado em Agronomia, Genor Brum Filho, 28 anos, assumiu a propriedade da família, em São Luiz Gonzaga, nas Missões, aos 22 anos. A sucessão foi antecipada pela morte do pai, há quatro anos. Com a orientação do irmão, Francisco Eugênio Brum, 56 anos, o agrônomo diversificou a produção nos 1,8 mil hectares da Fazenda Coqueiro.
Antes centrada na pecuária, a propriedade tem hoje 600 hectares cultivados com soja, milho, trigo e aveia. Neste ano, o jovem investiu em irrigação em 90 hectares da lavoura, com previsão de ampliar os pivôs centrais para outros 210 hectares:
– A responsabilidade de administrar sozinho é grande. Mas não teria porque não levar isso adiante.
Outra alternativa em crescimento é conciliar o agronegócio com uma carreira profissional paralela. Com o crescimento das cidades médias do Interior, estudantes recém-formados conseguem ajudar na gestão de lavouras da família e seguir com outra atividade no núcleo urbano mais próximo. Foi esse o caminho feito por João José Dornelles, 26 anos, formou-se em Direito em 2012. Depois de sete anos na Capital, retornou para São Borja, na Fronteira Oeste, para ajudar o pai Ory Dornelles, 50 anos, no cultivo de arroz e na pecuária. Agora, planeja abrir um escritório de advocacia na cidade e, ao mesmo tempo, atuar na gestão da propriedade:
– Sempre tive a ideia de voltar, gosto muito da vida no Interior.
Grupos distintos na Faculdade de Agronomia
Formadas por pelo menos três grupos distintos, as turmas da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revelam traços e comportamentos característicos de suas origens, assim como dos interesses que os levaram ao estudo da produção agrícola.
Veja alguns depoimentos de integrantes dos três grupos
Os chamados gaúchos da fronteira, ou também ginetes universitários, frequentam as aulas de boina, mate e até mesmo bombacha. Os colonos, descendentes de imigrantes italianos e alemães, carregam seus sotaques e costumam se unir em grupos. Os agroecológicos, normalmente vindos de centros urbanos, deixam transparecer em hábitos sustentáveis a valorização da produção orgânica de alimentos.
– O jovem que decide apostar no meio rural enxerga a rentabilidade do negócio. E essa oportunidade lhe permite ter qualidade de vida – analisa Pedro Selbach, diretor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Docente há 35 anos, Selbach acompanha a mudança de perfil dos jovens que buscam conhecimento acadêmico na área agrícola:
– Hoje, 50% dos estudantes vêm do Interior e 50% são de grandes centros urbanos. Há 30 anos, a maioria era do Interior e, majoritariamente, homens.
Por décadas, a falta de perspectivas no campo exportou milhares de jovens para a cidade – de onde dificilmente saíam. O resultado, ainda verificado, é o crescente êxodo rural. No entanto, o acesso a recursos básicos, como educação, saúde e tecnologia, fez a migração deixar de ser fundamental para se alcançar a independência financeira.
– A ideia de que campo é lugar de atraso é ultrapassada. O avanço da agricultura fortaleceu entre os jovens o orgulho de ser agro – diz Rosani Spanevello, professora do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Seja pela forte ligação com a terra ou para suceder familiares, grande parte dos jovens agora manifesta o desejo de ficar no campo. Mas ainda que 69% dos adolescentes da agricultura familiar não queiram migrar para grandes cidades, conforme dados do pesquisador Nilson Weischeimer, na prática, a decisão passa por questões bem pontuais.
– Os jovens que ficam ou retornam querem autonomia e liberdade para tomar decisões. A abertura dos pais é fundamental para atenuar conflitos de gerações – aponta Vera Carvalho, assistente técnica da Emater.
Pais e filhos devem ter funções definidas
Dividir atividades e renda dentro da propriedade foi o modelo encontrado pela família Signori para Alessandro, 25 anos, retornar a São Pedro das Missões, no Noroeste, após formar-se em Zootecnia. Enquanto o pai, José Signori, 57 anos, administra cem hectares de lavoura, o jovem responde pela produção leiteira.
– Recebi propostas de emprego em indústrias e comércio quando me formei. Mas meus pais estavam sozinhos, trabalhando muito. Optei por aplicar meus conhecimento junto deles – conta o jovem, que pretende expandir a produção com melhoria na qualidade dos animais.
O fortalecimento das agroindústrias também tem ajudado a seduzir jovens do campo, diz Douglas Cenci, coordenador da Juventude Estadual da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul).
Curso concluído, é hora de voltar
Formado em Agronomia, Genor Brum Filho, 28 anos, assumiu a propriedade da família, em São Luiz Gonzaga, nas Missões, aos 22 anos. A sucessão foi antecipada pela morte do pai, há quatro anos. Com a orientação do irmão, Francisco Eugênio Brum, 56 anos, o agrônomo diversificou a produção nos 1,8 mil hectares da Fazenda Coqueiro.
Antes centrada na pecuária, a propriedade tem hoje 600 hectares cultivados com soja, milho, trigo e aveia. Neste ano, o jovem investiu em irrigação em 90 hectares da lavoura, com previsão de ampliar os pivôs centrais para outros 210 hectares:
– A responsabilidade de administrar sozinho é grande. Mas não teria porque não levar isso adiante.
Outra alternativa em crescimento é conciliar o agronegócio com uma carreira profissional paralela. Com o crescimento das cidades médias do Interior, estudantes recém-formados conseguem ajudar na gestão de lavouras da família e seguir com outra atividade no núcleo urbano mais próximo. Foi esse o caminho feito por João José Dornelles, 26 anos, formou-se em Direito em 2012. Depois de sete anos na Capital, retornou para São Borja, na Fronteira Oeste, para ajudar o pai Ory Dornelles, 50 anos, no cultivo de arroz e na pecuária. Agora, planeja abrir um escritório de advocacia na cidade e, ao mesmo tempo, atuar na gestão da propriedade:
– Sempre tive a ideia de voltar, gosto muito da vida no Interior.
Grupos distintos na Faculdade de Agronomia
Formadas por pelo menos três grupos distintos, as turmas da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revelam traços e comportamentos característicos de suas origens, assim como dos interesses que os levaram ao estudo da produção agrícola.
Veja alguns depoimentos de integrantes dos três grupos
Os chamados gaúchos da fronteira, ou também ginetes universitários, frequentam as aulas de boina, mate e até mesmo bombacha. Os colonos, descendentes de imigrantes italianos e alemães, carregam seus sotaques e costumam se unir em grupos. Os agroecológicos, normalmente vindos de centros urbanos, deixam transparecer em hábitos sustentáveis a valorização da produção orgânica de alimentos.
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