Construção de barreiras de contenção é uma das maneiras de recuperar áreas degradadas
Saulo Camargo Junqueira
Imperatriz, MA
O uso inadequado do solo, sem a preocupação de conservá-lo, é fator responsável pelo surgimento de buracos, depressões e até verdadeiras crateras em propriedades rurais. Transformadas em terrenos pobres, secos e com pouca vegetação, as áreas degradadas perdem estrutura e firmeza para sustentar novos plantios e para se proteger do impacto de chuvas torrenciais.
Sobretudo em terrenos em declive, a força da queda das águas abre extensos barrancos, também conhecidos como ravinas ou voçorocas. Além de destruir solos que poderiam ser utilizados para o cultivo de diversas plantações, o deslizamento provocado pelas erosões ainda é responsável pelo assoreamento de rios, quando há algum curso de água nas proximidades.
Há diversas alternativas, como a construção de barreiras de contenção, que contribuem para impedir que os danos avancem pelas terras provocando maiores prejuízos para a propriedade. Contudo, a partir de pesquisas realizadas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), foi possível chegar a uma método de baixo custo e sustentável para recuperação de solos erodidos.
Com a constatação de que voçorocas têm sido um sério problema ambiental, tanto em área rural quanto em áreas urbanas, a Embrapa passou a desenvolver pesquisas buscando encontrar na natureza bactérias, que associadas a plantas da família das leguminosas, possam se tornar mais resistentes e aptas a crescer em solos degradados.
Por meio da associação entre plantas e microorganismos, que fixam nitrogênio na raiz de vegetais, e a criação de barreiras físicas com bambus e pneus velhos, pesquisadores da instituição descobriram como enriquecer o solo novamente e permitir o desenvolvimento de culturas em áreas danificadas. A barreira natural é erguida com o uso de cobertura vegetal a partir do plantio de espécies arbóreas como mulungu, sabiá, orelha de macaco e angicos.
Adicionalmente, também são aplicados no processo de produção de mudas fungos micorrízicos, que permitem às plantas aumentarem a capacidade de absorção de água e nutrientes do solo. Com essa combinação, as plantas vão para o campo mais fortes e conseguem sobreviver em ambientes degradados.
Em alguns casos, a tecnologia tem capacidade para reduzir custos em até quatro vezes em relação a outros métodos empregados. Em geral, em dois anos obtém-se resultados, com a formação de mata que possibilita a sobrevivência e a germinação de espécies nativas em um ambiente protegido e rico em nutrientes.
Além de ser usadas como cobertura vegetal, as espécies mulungu, sabiá, orelha de macaco e angicos podem ainda ter outra utilidade. O sabiá oferece um excelente mourão para cerca e lenha; o mulungu, que é uma árvore de flor vermelha muito bonita, pode ser usada para ornamentar a propriedade; e o angico fornece uma boa madeira além de mel. Para o reflorestamento também podem ser utilizadas pau-jacaré, maricá, entre outras espécies.
Fim das erosões
Porém, antes é necessário eliminar as voçorocas, pois elas tendem a se agravar com a quantidade de água de chuva que cai e escorre sobre o solo. Recomenda-se abrir valetas no próprio terreno, acima da área erodida, escavando bacias de contenção para manter a água por mais tempo no solo, sem criar uma enxurrada.
Em seguida, dentro da depressão, são construídas paliçadas de bambus ou pneus velhos, que funcionam como filtro, deixando a água passar e retendo os sedimentos. A tecnologia está disponível, com todos os detalhes, cálculos e dicas de fazer a contenção da água e o plantio no site da Embrapa a partir deste link.
Consultor: Alexander Silva de Resende, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Rodovia BR 465, Km 7, Caixa Postal 74505, CEP 23890-000, Seropédica, RJ, tel. (21) 3441-1500