FRUTAS DO MATO- CERRADO
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FRUTAS DO MATO
Blog dedicado a AGROECOLOGIA, ARBORIZAÇÃO URBANA, ORGÂNICOS E AGRICULTURA SEM VENENOS. Composting, vermicomposting, biofiltration, and biofertilizer production... Alexandre Panerai Eng. Agrônomo UFRGS - RS - Brasil - agropanerai@gmail.com WHAST 51 3407-4813
A primeira cultivar da espécie Passiflora alata Curtis registrada e protegida no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), BRS Mel do Cerrado, abriu aos fruticultores brasileiros o seleto e valorizado nicho de frutas especiais. A qualidade e o sabor adocicado são os diferenciais dos frutos, que chegam a alcançar preço até quatro vezes superior ao do maracujá-azedo. Desenvolvida pela Embrapa, a cultivar de maracujazeiro-doce tem dado bom retorno financeiro aos produtores e seu fruto recebeu ótima aceitação dos consumidores.
No momento, a cultivar é indicada para a região de Cerrado, no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Tocantins. Há trabalhos de validação em andamento em outras regiões brasileiras, incluindo o Sul, o Norte e o Nordeste.
“Temos muito mais frutos nesta próxima colheita, as plantas estão mais carregadas. Eu as vendo em caixas de papelão, cada uma com cinco ou seis maracujás, dependendo do tamanho deles, e embalo um por um com papel específico, igual à goiaba, para não machucar a casca. Cada caixa saiu de R$ 15,00 a R$ 19,00 – um ótimo preço”, comemora o produtor.
Os maracujás saem de Minas Gerais, da chácara São José, e vão para São Paulo, onde são comercializados na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), em um mercado que atua com frutas especiais exóticas, disputando espaço com o melão Andino, a granadilla do México e a graviola-baby da América Central, por exemplo. “Eu colho as frutas bem cedo, o pessoal do transporte busca a carga por volta das 15h e às 5h da manhã do outro dia, elas já estão em São Paulo para serem vendidas”, conta.
Quando dispostas no mercado, uma das frutas é cortada para que os clientes possam experimentá-la. “Essa é a tática de venda adotada para mercadorias diferentes e é muito importante no caso desse maracujá, também porque a fruta por si só não atrai pelo seu visual”, explica o vendedor Celso de Oliveira. Mas o retorno é certo. Apesar de não ser uma venda rápida, justamente por se tratar de um produto pouco conhecido pelos consumidores, o resultado é bom, já que a novidade tem agradado aos clientes. “A fruta é maravilhosa, uma delícia. Todos que provam gostam. Vou continuar trabalhando com ela aqui no mercado”, garante Celso.
O vendedor disse que já conhecia o maracujá-doce de uma produção que recebia de Janaúba, em Minas Gerais, há uns seis anos. Mas em relação ao Mel do Cerrado, Celso diz que a variedade melhorada pela Embrapa tem melhor sabor e mais tempo de prateleira do que a fruta nativa, apesar de ainda ser um período curto, cerca de uma semana depois de colhida. Depois desse prazo, a fruta começa a amolecer.
Colheita precoce em períodos quentesO amolecimento da ponta das frutas é um dos principais problemas da espécie P. alata, fato que é agravado nos períodos mais quentes do ano. “A alternativa é colher o fruto no início do amadurecimento, assim que começar a mudança de cor,” recomenda o pesquisador da Embrapa Cerrados (DF) Fábio Faleiro, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da cultivar. Outra medida é realizar a pulverização foliar com cálcio para aumentar a consistência da casca dos frutos. O cientista ressalta que o amolecimento da ponta do fruto não está relacionado a pragas ou doenças e tem menor ocorrência nas épocas mais frias. |
“Quem experimenta o maracujá-doce gosta e elogia seu sabor e se impressiona com o tamanho do fruto”, conta o produtor. A nova fruta tem conquistado os consumidores, tanto que a pequena plantação a céu aberto não consegue atender a demanda. O agricultor diz que já recebeu pedidos de mercados locais e de pessoas conhecidas, mas sua produção só é suficiente para atender o mercado paulista. “Estou com a ideia de aumentar a produção. Vou aproveitar uns mourões e uns arames de outra cultivar que não deu certo aqui e vou plantar mais maracujá-doce”, planeja Gilmar.
Os custos de produção do maracujá-doce variam conforme a capacidade de investimento do produtor, já que a cultivar pode ser plantada a céu aberto, em pequenas propriedades, em sistema orgânico e também em estufa, explica Faleiro. “Não existe um pacote tecnológico para essa cultivar, ou seja, o agricultor pode produzir o maracujá dentro da sua realidade de investimento”, esclarece.
Agricultores periurbanos confirmam isso. Valdete Frota cultivou 50 mudas em sistema orgânico. Na primeira carga, foram colhidos 146 quilos de frutos, já descontadas as perdas. O produtor entregou parte da primeira safra para uma banca de orgânicos de Sobradinho (DF). Em dois dias, foram vendidos 40 quilos. Também forneceu os frutos a supermercados da região. “Um deles, ao experimentá-lo, me pediu mais 30 quilos. Mesmo sendo um fruto desconhecido, vendeu muito bem. E nem usamos o apelo do orgânico”, afirma, satisfeito com os resultados iniciais.
Agora que se mudou de Brasília (DF) para uma propriedade em Formosa (GO), Frota planeja aumentar o investimento na BRS Mel do Cerrado. “A experiência foi boa. Eu consegui vender por volta de R$ 5,00 o quilo. É melhor que produzir vinte quilos do outro [maracujá-azedo] e vender a R$ 1,50 na safra. Agora em agosto ou setembro eu vou plantar 500 mudas”, planeja.
Mesmo sabendo que se trata de um mercado novo, Frota está confiante de que mais uma vez fará uma boa venda: “Apesar de não ter oferta, assim que eu começar o plantio, vou sair para procurar clientes. Vou atrair pela novidade, a fruta é bem saborosa e muito cheirosa. Vou às feiras de produtos orgânicos. O pessoal do orgânico é mais aberto a novas experiências. Isso pode ajudar a vender e a conquistar mercado”, acredita. Frota diz que a variedade da Embrapa sofre menos com virose do que as outras de maracujá-doce, não atrapalhando o desenvolvimento nem a produtividade da planta.
O produtor de Brazlândia (DF) Mauro César Santos, que participou do teste de validação da cultivar, destaca o fato de as flores se abrirem pela manhã, enquanto as do maracujazeiro-azedo se abrem à tarde. Isso permite melhor aproveitamento da mão de obra na propriedade. “É possível colocar um funcionário para polinizar o maracujazeiro-doce de manhã e o maracujazeiro-azedo, à tarde”. O produtor explica que otimizar a mão de obra é importante para a saúde financeira do negócio, considerando todos os tratos culturais como adubação, podas e irrigação.
Pesquisadora apresenta vantagens do maracujá doce BRS Mel do Cerrado
O custo de produção, segundo o produtor, foi exatamente o mesmo do maracujazeiro-azedo. Mas por se tratar de um produto diferenciado, o preço da fruta pode ser até quatro vezes maior do que o do maracujá-azedo comercial. “Por se tratar de um fruto especial, ele alcança um mercado consumidor de maior poder aquisitivo e isso agrega valor ao produto”, justifica.
Apesar de a variedade da Embrapa apresentar maior tolerância a bacterioses e viroses, o maracujá-doce, em geral, é mais suscetível a determinadas pragas e doenças do que as variedades de maracujazeiro-azedo. As recomendações de manejo fitossanitário, que são as mesmas do maracujá-azedo, precisam ser seguidas rigorosamente. “É importante ter como princípio o manejo integrado, no qual são combinadas diferentes estratégias de controle genético, biológico, cultural e químico”, enfatiza o pesquisador.
Quanto às pragas, é importante o produtor ficar atento à abelha Irapuá, ao tripes, ao besouro-da-flor, aos percevejos, à mosca-da-fruta e à mosca-do-botão-floral, que danificam as flores e os frutos. “É importante não deixar frutos maduros na planta ou no chão para não atrair a mosca-das-frutas”, recomenda Faleiro.
Para que a cultivar possa conviver melhor com a virose, a Embrapa recomenda o uso da tecnologia do mudão, na qual as mudas são conduzidas em ambiente protegido até atingirem um metro de altura ou mais, quando então são levadas ao campo. Também é importante evitar, ao máximo, o plantio próximo a pomares de maracujazeiro-azedo com a ocorrência de virose.
Para conhecer mais sobre as pragas e doenças do maracujazeiro e as estratégias de manejo integrado, clique aqui.
Foto: Gilmar Santos
Em testes com diferentes perfis de produtores e sistemas de produção, nas condições do Distrito Federal, a BRS Mel do Cerrado produziu de 15 a 25 toneladas por hectare, em polinização aberta, com potencial para alcançar mais de 30 toneladas em plantio em estufa.
Segundo o pesquisador Fábio Faleiro, a expectativa é de que as cultivares desenvolvidas a partir das diferentes espécies de maracujá possam diversificar os sistemas de produção, para oferecer novas opções de geração de emprego e renda, melhorar a qualidade de vida dos produtores e proporcionar aos consumidores produtos derivados de uma biodiversidade essencialmente brasileira.
Os frutos maduros têm a casca de cor amarela, pesam de 120 gramas a 300 gramas (média de 200 gramas) e têm formato oboval, o que lhes dá uma aparência externa semelhante ao de um mamão papaia. A polpa tem cor amarelo-alaranjada e sabor adocicado, acima de 17º Brix, enquanto o do maracujá-azedo é por volta de 12º a 13º Brix (indicador de doçura da fruta). A polpa, sementes e casca são comestíveis, e esta última pode ser usada em farinhas, saladas, compotas e outras receitas, além de servir de alimento para o gado.
O cultivo de qualquer tipo de maracujá exige planejamento desde a implantação do pomar até a comercialização do produto. “É importante que o agricultor busque as informações técnicas sobre o cultivo e siga todas as recomendações de manejo. Antes de plantar, o produtor deve saber quem vai comprar a produção”, recomenda Faleiro.
A vertente ornamental da nova cultivar pode ser apreciada, inclusive, por quem pratica o cultivo de fundo de quintal. Foi o caso de Jacinta de Toledo, que mora em um condomínio em Formosa (GO). Ela plantou quatro mudas em um pergolado na garagem de casa. Com a adubação das plantas, a floração foi intensificada. “A flor é muito bonita. Depois da chuva, a mamangava apareceu e o maracujá produziu os frutos muito rápido”, lembra.
Faleiro explica que a cultivar tem um uso nobre na linha da fruticultura ornamental, na qual as plantas são utilizadas como ornamento devido à beleza das flores, da planta, e também dos frutos, os quais permitem o processamento de diferentes tipos de alimentos.
Jacinta distribuiu os cerca de cem frutos colhidos para amigos e vizinhos, que também se interessaram em produzir a BRS Mel do Cerrado no fundo do quintal. Ela aprendeu uma receita para utilizar, além da polpa e sementes, a parte branca da casca do maracujá-doce, na forma de salada.
Para saber como utilizar a polpa, sementes e cascas do maracujá-doce no processamento de alimentos, clique aqui.
A BRS Mel do Cerrado é resultado de um trabalho de quase 20 anos, iniciado com a seleção e recombinação de acessos de diferentes origens, principalmente da região do Cerrado do Planalto Central. O melhoramento genético convencional, em cinco ciclos de seleção, resultou em uma cultivar com maior produtividade, maior tolerância à bacteriose e à virose e frutos com maior qualidade física e química, além de formato adequado ao mercado.
Os interessados em adquirir as mudas da BRS Mel do Cerrado devem entrar em contato com os viveiristas licenciados pela Embrapa. A relação desses fornecedores, além de outras informações sobre a cultivar, podem ser encontradas aqui.
Foto: Breno Lobato
Breno Lobato (MTb 9417/MG)
Embrapa Cerrados
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Juliana Miura (MTb 4563/DF)
Embrapa Cerrados
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/
O Sistema Agroflorestal (SAF) ou, popularmente, agrofloresta, combina o plantio de árvores ou arbustos com cultivos variados para consumo e comercialização.
Essa diversidade tem como objetivo o maior aproveitamento dos recursos naturais, como solo, água e luz.
Então de maneira simplificada, uma agrofloresta é um sistema de multicultivo adensado onde são plantadas de uma só vez 30 ou mais espécies.
Preferencialmente mais, com vários estratos de crescimento e ciclos de vida, dirigidas pela sucessão natural.
Onde ao longo de sua evolução uma planta ajuda a outra, todas ajudam a natureza e esta ajuda o homem que aprende a respeitá-la.
Ou seja, uma agrofloresta é uma forma de produzirmos alimentos ao mesmo tempo em que conservamos ou recuperamos a natureza.
Isso é possível porque nessa forma de produção, ao invés de retirarmos toda a vegetação original e plantarmos apenas uma cultura em uma larga extensão de terra, procuramos entender o funcionamento da natureza e imitá-la.
Utilizando assim as relações entre os seres vivos a nosso favor e estimulando a biodiversidade.
E dessa forma, é muito importante o conhecimento das características de cada espécie utilizada e sua relação com as demais.
A adubação é feita de forma natural.
Ou seja, com os recursos disponíveis e com a dinâmica de ciclagem de nutrientes típica das florestas.
Por meio da poda das árvores e da adubação verde.
Não é utilizado agrotóxicos nem adubos químicos.
Já que agrotóxicos e demais químicas vão contra a técnica da agrofloresta (que propõe um controle natural das pragas através do restabelecimento do equilíbrio ecológico).
Assim, é importante entendermos que, quando retiramos a mata e degradamos o ambiente, a natureza tenta a todo custo se regenerar.
E quando isso acontece, aparecem as “pragas” e as “ervas daninhas”.
Isso nada mais é, do que a natureza tentando restabelecer seu equilíbrio natural, atrapalhado pelo ser humano.
Ou seja, essa é a forma da natureza de expressar que algo está errado.
E devemos interpretar estes sinais e utilizá-los a nosso favor, para nos auxiliar com o manejo.
Assim, se os insetos estão em uma quantidade que pode danificar a colheita, devemos aumentar a biodiversidade e buscar o controle biológico.
Ou quando há o surgimento de ervas espontâneas, devemos retirar ou podar aquelas que porventura estiverem competindo com as culturas e estimular o crescimento das outras.
Dessa forma, o mais importante em um manejo agroflorestal é o conhecimento do ambiente natural que nos cerca.
Além da consciência de que o ser humano faz parte da natureza e deve se relacionar com ela de uma forma harmoniosa.
Ou seja busca não contaminar as águas, o solo e os alimentos
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