segunda-feira, 17 de julho de 2023

Os tipos de Manjericão

 Fonte: blog matos de comer

Manjericão-Zaatar e Alfavacão

Se quiser saber mais sobre outros tipos de manjericão, clique aqui. Nessa postagem, falaremos de dois tipos de ervas aromáticas muito parecidas entre si: o manjericão-zaatar e o manjericão-cravo ou alfavacão.

Falar de manjericão é falar de uma das plantas mais fáceis de se cultivar numa horta. É fácil pegar muda "de galho", desenvolve-se em qualquer solo e em qualquer clima, desde que não excessivamente úmido; e é um tempero coringa na cozinha. Pelo menos aqui em casa, o sabor da comida é definido pela tríade manjericão, salsa e cebolinha. Pessoalmente não conheço ninguém que o odeie, especialmente porque ele povoa um dos alimentos mais populares: massas. Pizzas, macarronadas, o que seriam delas sem o manjericão? Aliás, como seria a culinária mediterrânea e asiática sem ele (sim, na ásia variedades de manjericão são muito populares).

O manjericão mais comum no Brasil.
Ocimum basilicum L. var. album
A prima do manjericão é a alfavaca, embora haja confusão com os nomes. Basicamente, tudo que é chamado de alfavaca pode ser chamado de manjericão, com a exceção do manjericão italiano, de folhas largas, que sempre é chamado de manjericão (sweet basil). Assim, manjericão e alfavaca, em geral, são a mesma coisa, e podem ser chamados de ambas as formas.

Manjericão italiano, note as folhas lisas,
grandes e brilhantes.

Manjericão italiano.
Ocimum basilicum L. cv. genovese
O manjericão pertence à espécie Ocimum basilicum, assim como suas variedades roxa, anã, anis, cítrica... O manjericão italiano é a espécie Ocimum basilicum L. cv. genovese, quando o nosso manjericão usado no Brasil, por vezes chamado de alfavaca, é o Ocimum basilicum L. var. album. Isso tudo para dizer que o manjericão usado na Itália e o usado no Brasil são variedades da mesma espécie. 

Falando de outras alfavacas ou manjericões. De acordo com o livro Basil: The Genus Ocimum, existem outros tipos de alfavaca, cada uma com características aromáticas distintas. Das mais comuns, temos duas variedades: a rica em eugenol, também chamado de alfavacão ou manjericão-cravo (Ocimum. gratissimum var. gratissimum) e o a rica em timol, chamada de manjericão-tomilho ou manjericão-zaatar (Ocimum gratissimum var. macrophyllum). 

O encontro dos manjericões. à direita, cravo ou
alfavacão. À esquerda, menos piloso e folhas maiores,
manjericão zaatar. Parecidos!
Os dois são parecidos: adoram sol pleno, possuem grande porte, folhas recobertas de pelos e um aroma intenso. Para fazer mudas, consiga uma rama com o caule já maduro (lignificado), que de preferência já tenha passado pela floração. Enraízam bem na areia, em uma estufa com alguma ventilação (usei um garrafão de água com alguns furos), quando podem ser levados para canteiro definitivo. Pelo seu porte, ficam melhor no chão do que em vasos. As sementes são viáveis e precisam se luz para germinar.

Desconfundindo

Manjericão ou Alfavaca (mais comum no Brasil): Ocimum basilicum L. var. album
Manjericão Italiano, de folhas largas: Ocimum basilicum L. cv. genovese
Manjericão Zaatar: Ocimum gratissimum var. macrophyllum
Manjericão Cravo: Ocimum. gratissimum var. gratissimum


O manjericão zaatar


Ocimum gratissimum var. macrophyllum
Esse manjericão tem um cheiro muito forte e é preciso ter moderação no seu uso, para não dominar o paladar do prato. O zaatar, para quem não conhece, é um tempero picante usado em pó como condimento na culinária oriental, especialmente nos países Árabes, e chegou aqui em São Paulo pelas mãos dos libaneses. É feito à base de gergelim, frutos de sumagre, que lhe conferem acidez e cor avermelhada e folhas de tomilho, definindo o aroma característico. O tomilho é uma planta rica em timol, assim como o manjericão-zaatar, e a atribuição de nomes foi imediata. O manjericão-zaatar substitui o tomilho e por isso, todos os condimentos preparados com ele. Poderia ser chamado "manjericão tomilho", porque não?

Na medicina popular, usado como analgésico, anti-fúngico, digestivo e antinflamatório.


O manjericão cravo ou alfavacão

Ocimum. gratissimum var. gratissimum
O alfavacão é um velho conhecido nosso. Mais famoso na medicina popular do que na cozinha, ele é rico na mesma substância que dá aroma ao cravo, emprestando também picância e propriedades medicinais parecidas. Usado com condimento, substitui o cravo em diversos pratos, como aqueles à base de cordeiro e de porco, assim como na confeitaria pode dar sabor de cravo para doces, geleias, bolos e compotas. No chá também ele tempera sem se sobressair - basta usar a quantidade certa.

As folhas são repelentes e ele tem propriedades analgésicas, bactericidas e anti-inflamatórias, além de ser um bom digestivo. Como dica, pode ser deixado no álcool para um repelente caseiro, conjugado com outras ervas.

Curiosidade: o nosso manjericão é o mesmo que se consome na Itália?


O nosso manjericão, de porte grande, arbustivo e folhas opacas pertence à mesma espécie, mas é diferente do manjericão que que comumente consumido em comida italiana pelo mundo afora. O manjericão italiano tem as folhas grandes, brilhantes e carnudas, como a variedade "genovese". Há ainda o "mammoth", de folhas grandes o suficiente para serem usadas com envoltório de porções. Há, obviamente, muitos outros. O nosso, apensar do sabor parecido e composição aromática similar (rico em linalol e metil-chavicol) não é o manjericão mais usado por lá. Não que seja exclusividade nossa, mas um pesto feito aqui pode não ser exatamente parecido com um pesto italiano (fora o preço do pinhole).

sábado, 15 de julho de 2023

Falta biodiversidade na dieta de 99% dos brasileiros USP

 


Fonte jornal da USP

Mapeamento mostra que somente 1 em cada 100 brasileiros consome os chamados alimentos biodiversos, que incluem vegetais regionais, carnes de caça e cogumelos

  05/06/2023 - Publicado há 1 mês

Texto: Camilla Almeida

Arte: Gabriela Varão

Fotomontagem: Jornal da USP – Fotos: Freepik e Wikimedia Commons

O Brasil possui uma das mais notáveis biodiversidades do planeta, que se estende para a oferta de alimentos. São milhares de espécies nativas que garantem à culinária brasileira diversidade com sabores únicos do País. Do tucumã, fruta típica da região amazônica, ao pequi, típico do Cerrado, os chamados alimentos biodiversos incluem plantas alimentícias não convencionais (Panc), carnes de caça e cogumelos comestíveis. Costumeiramente regionais e representativos da biodiversidade brasileira, alguns deles têm potencial para contribuir com a segurança alimentar da população e para uma dieta mais saudável. 

Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, em parceria com as universidades federais do Pará (UFPA), do Rio Grande do Norte (UFRN), de Campina Grande (UFCG), da Paraíba (UFPB) e de Pernambuco (UFPE), investigou o consumo desses alimentos pelos brasileiros e constatou que apenas 1,3% da população tem acesso a uma dieta biodiversa.

Foram utilizados dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE, acerca do recordatório alimentar das últimas 24 horas de mais de 46 mil pessoas, de todos os Estados. “Nós utilizamos modelos matemáticos para identificar as quantidades e as frequências de alimentos consumidos, além de encontrar quais eram as variáveis socioeconômicas associadas a esse consumo”, explica Aline de Carvalho, professora da FSP, ao Jornal da USP. Para uma melhor compreensão de tais informações, os diferentes nomes regionais para o mesmo alimento foram considerados. 

Aline de Carvalho - Foto: Arquivo Pessoal

Aline de Carvalho – Foto: Arquivo Pessoal

Com isso, os pesquisadores elaboraram uma lista de alimentos biodiversos separada entre as Panc, carnes e cogumelos, unificando dados como estados de aparição, vezes em que foram mencionados e nome científico. O alimento que mais apareceu foi o pequi, fruto popular da culinária do Cerrado, que foi citado 135 vezes, principalmente por goianos. Algumas frutas como o jenipapo, o babaçu e o butiá foram reportadas apenas uma vez, por moradores da Bahia, Maranhão e Paraná, respectivamente.

PANC: plantas alimentícias não convencionais – Fotomontagem: Jornal da USP – Fotos: Freepik e Wikimedia Commons

Além disso, foram analisados os perfis socioeconômicos dos consumidores de cada subdivisão. “Foi possível observar que as plantas são mais consumidas por mulheres, principalmente não brancas, das regiões Norte e Nordeste do País, e com uma menor renda per capita”, diz Aline Carvalho.

Os cogumelos, por sua vez, foram mais encontrados na mesa de mulheres brancas, das regiões Sul e Sudeste, com uma maior renda. 

Com relação às carnes de caça, como paca, jacaré e cotia, homens negros e indígenas em situação de insegurança alimentar, que também residem na zona rural no Norte e no Nordeste, são os maiores consumidores.

Vale ressaltar que no Brasil a caça de animais silvestres é proibida, com exceção para a caça de subsistência (necessidade de alimentar a si mesmo ou à própria família) e para alguns casos autorizados pelos órgãos competentes.

Alimentação saudável e diversa

A pesquisadora destaca a ausência de estudos sobre alimentação biodiversa, e coloca esses alimentos como negligenciados pela maioria da população. “Eles são muito pouco consumidos, o que pode ter vários motivos: ou aquele alimento já não é mais considerado cultural naquele local, ou porque ele nem mesmo está presente no supermercado”, explica Aline de Carvalho. O enfraquecimento da relação humano-natureza e o afastamento dos centros urbanos com a diversidade natural podem ser citados como fatores que contribuem para a falta desses alimentos na nossa mesa.

A notável falta de biodiversidade na dieta brasileira é uma preocupação para a saúde da população, que cada vez mais consome alimentos ultraprocessados. “É preciso promover a segurança alimentar, uma alimentação que seja de qualidade e em quantidade suficiente para toda a população. Esse trabalho vai desde nós mostrarmos de que maneira esses alimentos [biodiversos] poderiam ser consumidos, mas complementar com diversos outros projetos que fomentem uma alimentação natural.”

projeto Sustentarea, um Núcleo de Extensão Universitária da USP coordenado pela pesquisadora, busca popularizar esses alimentos por meio de hortas urbanas e livros culinários – medidas que procuram incentivar a busca e a implementação desses elementos na dieta da população. Oficinas são promovidas todos os meses no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp). Elas contam com demonstração de receitas, roda de debates e introduções teóricas sobre diferentes temas, de maneira dinâmica e prática. 

Projeto Sustentarea - Fotos: Reprodução/Sustentarea-USP Sustentabilidade

Iniciativas como as realizadas pelo Sustentarea são peças fundamentais não só na popularização desses frutos, vegetais e plantas, mas também para a conscientização da importância de uma alimentação diversificada e in natura – livre de agrotóxicos e conservantes. “Nós estamos perdendo nossa relação com a comida ao longo do tempo. É muito importante nos reconectarmos para assim termos uma alimentação mais saudável, com menos impactos ao meio ambiente”, afirma a pesquisadora.

Agora, o objetivo é compreender a qualidade nutricional desses alimentos e suas implicações no campo econômico e social. A pesquisadora espera que o mapeamento realizado pelo estudos sirva como incentivo para novas investigações e reflexões sobre alimentação biodiversa.

Os resultados do estudo foram publicados no artigo Biodiversity is overlooked in the diets of different social groups in Brazil, disponível na revista Scientific Reports.

Mais informações: e-mail alinenutri@usp.br, com Aline Martins de Carvalho.


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