terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Cultivo de lupulo no Rio Grande do Sul

Uma nova cultura

FONTE: SITE O PIONEIRO

gustavo laurindo
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Produtor de São Francisco de Paula colheu uma tonelada neste ano
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FERNANDO SOARES 
fernando.soares@pioneiro.com
Ingrediente responsável por gerar o amargor e o aroma característicos da cerveja, o lúpulo começa a ganhar espaço em solo gaúcho. Cinco produtores, sendo quatro deles na Serra, decidiram apostar no cultivo da flor nos últimos três anos. E os resultados das primeiras safras colhidas indicam que a cultura, tradicional em países como Alemanha e Estados Unidos, tem um futuro promissor no Rio Grande do Sul.
O início do plantio de lúpulo no Estado não ocorre à toa. O foco dos produtores é atender ao mercado cervejeiro nacional, que tem se expandido em ritmo acelerado. Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil conta 679 cervejarias. Cinco anos atrás, havia menos de 200 estabelecimentos cadastrados no país. O Rio Grande do Sul, atualmente com 142 empresas, lidera a fabricação de cerveja.
Como hoje todo o lúpulo utilizado na fabricação da bebida é importado, muitos investidores viram na produção da flor um nicho a ser explorado. No momento, o cultivo se encontra em um estágio inicial. A principal área plantada no Estado e uma das maiores no Brasil, até agora, é a do produtor Gustavo Laurindo, de São Francisco de Paula. Ele começou a fazer experimentos em 2015 nas terras de sua família. Desde então, deixou o emprego que tinha em uma indústria de Caxias do Sul e investiu em torno de R$ 500 mil para estruturar a plantação em um hectare.
Neste ano, entre fevereiro e abril, Laurindo colheu uma tonelada da flor. Foi sua primeira safra comercial e mais da metade dela já foi vendida para microcervejarias e cervejeiros amadores. Os 500 quilos que restaram do insumo devem acabar em poucos meses, pois há acordos encaminhados para o fornecimento a outros seis estabelecimentos em diferentes regiões do país.
Para a próxima safra, Laurindo vai expandir a área para dois hectares, com o objetivo de colher duas toneladas. Ao todo, são cultivadas 10 variedades, sendo cascade, chinook e columbus as principais. A longo prazo, as metas são ainda mais ambiciosas
– Em até sete anos, imagino produzir 10 toneladas ao ano, conforme vá expandindo a área. A tendência é de que o mercado absorva toda essa produção – projeta. 
No país
O Rio Grande do Sul não é o único Estado no qual a cultura está sendo implementada. Atualmente, existem 31 produtores espalhados por sete unidades federativas, com uma área plantada que não passa de 20 hectares, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo). A criação da entidade começou a ser articulada no final de 2016 e será formalizada neste mês, em uma assembleia em Lages, Santa Catarina.
O objetivo do grupo é conectar os interessados em realizar o cultivo em solo brasileiro e fomentar a produção da flor em escala comercial.
– O plantio de lúpulo é muito recente. Não existe ainda uma cadeia produtiva formada no Brasil. Hoje ninguém está produzindo em escala comercial – comenta Alexander Creuz, que deverá ser eleito o primeiro presidente da Aprolúpulo.
Proprietário de uma empresa de assistência técnica especializada em lúpulo, o agrônomo catarinense Felipe Francisco calcula que a cultura deve levar de 10 a 15 anos para se consolidar no Brasil. Ou seja, ainda há um longo caminho até a produção nacional conseguir se tornar uma alternativa real à importação do ingrediente. Por outro lado, os resultados obtidos até agora são animadores.
– O potencial do cultivo do lúpulo é muito grande, maior do que imaginávamos inicialmente. Fazendo experimentos, vimos que é possível cultivar em várias regiões – explica.
Entretanto, o lúpulo de qualidade, com alto teor de óleos essenciais, deverá ser obtido, principalmente, na Serra Gaúcha e na Serra Catarinense. Para Francisco, essas duas regiões devem concentrar a maior parte da produção brasileira, em função de características como clima e altitude. Desta maneira, ele lembra que o lúpulo é uma flor que requer bastante horas de sol e temperaturas amenas no verão para se desenvolver.
Dentro da flor de lúpulo, há alguns pontos amarelos chamados de lupulina. Eles congregam diversas substâncias, como resinas e óleos essenciais, que são responsáveis por dar o amargor e o aroma à cerveja.

Produtores por estado

Fonte: Aprolúpulo

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“Loucura” que deu certo

Marcelo Casagrande
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diversas frentes | Bastiani vende mudas, investe no cultivo comercial e ainda faz a própria cerveja
– Tu és louco, isso não vai dar certo.
Esta foi a frase que o produtor Guilherme de Bastiani, de Nova Roma do Sul, mais ouviu quando dizia para familiares e amigos que iria vender sua empresa de distribuição de bebidas para se dedicar ao cultivo de lúpulo. Em 2015, ele comprou algumas mudas em São Paulo e plantou-as no quintal de casa. Na primeira vez, o resultado desejado não apareceu. Mas, após insistir e fazer outras tentativas, os cones verdes brotaram. A loucura começava a dar certo.
Vendo que o lúpulo nascia na Serra, Bastiani montou uma estufa caseira, na qual testa novas variedades e multiplica as mudas. Ao compartilhar fotos de sua experiência na internet, gente de todo o Brasil passou a procurá-lo para comprar plantas. Esse virou um nicho de atuação. Há semanas nas quais o produtor comercializa mais de 100 mudas, ao preço médio de R$ 35 por unidade.
Bastiani ainda decidiu apostar no cultivo comercial do lúpulo. Para isso, comprou meio hectare de terra, no ano passado, e colocou cerca de 200 plantas das variedades cascade e chinook. Entre fevereiro e abril, colheu 30 quilos em sua primeira safra. Metade da produção foi vendida para uma cervejaria de Florianópolis. Com a outra metade, o produtor fabrica sua própria cerveja. Para ter estoque do ingrediente até a próxima safra, ele secou e embalou a vácuo as flores, o que garante a longevidade durante o ano.
E em 2019, a produtividade deve aumentar substancialmente.
– Vou aumentar para 750 mudas na próxima safra e devemos colher em torno de 150 quilos no total – afirma.
Em Nova Roma do Sul, o cultivo acontece de uma maneira pouco convencional, na horizontal, como ocorre tradicionalmente com a uva. Neste modelo, a planta atinge em torno de 2 metros de altura, facilitando a colheita dos cones. Da maneira convencional, na vertical, o pé de lúpulo pode chegar a até seis metros de altura.
O produtor Natanael Moschen, de Gramado, é outro que optou por cultivar lúpulo no formato igual ao de parreiral. Em uma área com dois hectares, ele deve colher sua primeira safra comercial em 2019, quando deverá ter em torno de 1,5 tonelada da flor. Neste ano, ele obteve uma pequena quantidade e comercializou apenas para paneleiros, aquelas pessoas que fazem cerveja em casa.
– No ano que vem, teremos produção plena, e a ideia é oferecer às cervejarias – destaca Moschen.
O gramadense constata que o mito de que o lúpulo não renderia no Brasil é coisa do passado. Segundo Moschen, a cultura tem se adaptado bem à Serra, ainda que às vezes haja problemas com ácaros, formigas e fungos na plantação. Ainda assim, as pragas têm sido controladas, muitas vezes sem o uso de agrotóxicos. Adubo orgânico e chá de fumo são alguns dos ingredientes utilizados pelos produtores gaúchos na atividade.
NATANAEL MOSCHEN, DIVULGAÇÃO
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EM GRAMADO | Moschen pretende colher primeira safra comercial no ano que vem

O tamanho do mercado

Água, levedura, lúpulo e malte. Dos ingredientes básicos da cerveja, o lúpulo era, até pouco tempo, o único sem produção no mercado interno. Por conta disso, nos últimos anos, cresceu a importação do insumo. Segundo dados do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), compilados pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), o Brasil comprou 36,4 toneladas de lúpulo estrangeiro no primeiro trimestre de 2018. A quantidade é superior a todo o volume importado em 2017, quando o país trouxe 34,6 toneladas do Exterior.
A Aprolúpulo estima que os negócios envolvendo a aquisição do produto movimentam mais de US$ 50 milhões por ano no país, com perspectivas de crescimento. Neste sentido, a produção nacional vai abrir possibilidades até então inexistentes para as cervejarias brasileiras, que poderão utilizar lúpulo fresco e em flor. Hoje, o produto importado geralmente é de safras antigas e costuma chegar beneficiado em formato de pellet.
– O lúpulo que vem para Brasil é o que sobrou no Exterior. Se a gente conseguir ter lúpulo mais perto e o utilizarmos fresco, mais qualidade pode ter a cerveja – argumenta Rodrigo Ferraro, presidente da Associação Gaúcha de Microcervejarias.
A existência de uma produção brasileira pode baratear os custos das cervejarias no futuro. Atualmente, um quilo de lúpulo importado é vendido por R$ 150 a R$ 300, dependendo da variedade. O brasileiro sai entre R$ 200 e R$ 400, mas a tendência é de que o preço baixe conforme aumente a produção interna.

As primeiras cervejas com lúpulo gaúcho

MARCELO CASAGRANDE
mercado | Procura pela cerveja com lúpulo local é alta, diz Gazzola
Aos poucos, as primeiras cervejas feitas com lúpulo nacional chegam aos copos dos consumidores. A cervejaria Imaculada, de Caxias do Sul, foi uma das primeiras a colocar no mercado um rótulo feito exclusivamente com o insumo gaúcho. Trata-se de uma Summer Ale produzida com flores frescas oriundas de São Francisco de Paula. A bebida começou a ser fabricada menos de oito horas após a colheita dos cones verdes e foi lançada no final de abril.
Ao todo, a Imaculada fez 1 mil litros do rótulo, sendo que a maior parte foi envasada em garrafas de 500ml. Segundo o sócio-proprietário da empresa, Marcus Gazzola, a intenção era experimentar o lúpulo local de maneira despretensiosa. O resultado surpreendeu positivamente, gerando uma cerveja com aromas que remetem à erva-mate e bergamota.
Ainda assim, Gazzola analisa que o lúpulo gaúcho, no momento, fica devendo em alguns aspectos, se comparado com os estrangeiros.
– O nosso lúpulo não é tão intenso, talvez por ser de primeira safra. Os americanos são mais intensos. Mas o gaúcho pode ser um lúpulo nobre (que pode ser utilizado não só para amargar, mas para dar aroma à cerveja) – classifica Gazzola.
A procura pela cerveja com lúpulo gaúcho tem sido intensa. A cervejaria caxiense já forneceu para estabelecimentos em Caxias e São Paulo e tem negócios encaminhados para outros lugares do Rio Grande do Sul e do nordeste do país.
A Taberna MF, de Gramado, é outra cervejaria que apostou nas flores de São Francisco de Paula. O estabelecimento fez uma releitura de uma American Pale Ale (APA), que já era produzida com insumos importados. Foram fabricados 1,2 mil litros da bebida, que passará a ser disponibilizada apenas nas torneiras do bar ainda em maio.
– Resolvemos experimentar o lúpulo gaúcho até para incentivar esse tipo de investimento. O mercado cervejeiro só tem a ganhar com esse plantio – salienta Elenilton Baretta, mestre-cervejeiro da Taberna MF.
A tendência é de que o número de cervejas contendo lúpulo gaúcho se multiplique ao longo deste ano. Há, pelo menos, uma dezena de rótulos brasileiros que estão sendo preparados com o insumo do Rio Grande do Sul e logo devem ser disponibilizados para venda.

Lúpulos registrados no Brasil 

Fontes: Condado da Cerveja, Gustavo Laurindo e Ministério da Agricultura

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