quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Embaúba - Regeneração Florestal







Desde pequena as embaúbas chamam minha atenção. Eram aquelas lindas árvores, com folhas grandes e tronco fininho, com galhos ondulados como as ondas do mar. Eu observava com atenção cada uma delas quando ia à praia com meu avô paterno e toda a família, na época das férias, no litoral paulista.
Sentia muito acolhimento ao passar por um caminho estreito de areia com estas árvores ladeando a passagem. Eu poderia passar mais tempo ali do que em qualquer outro lugar da praia. Sabe por que? Porque ali moravam alguns bichos-preguiça que viviam agarradinhos às embaúbas. Nessa época, nasceu meu amor – que é forte até hoje -, pelas embaúbas e suas amigas preguiças.

 
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Desde pequena as embaúbas chamam minha atenção. Eram aquelas lindas árvores, com folhas grandes e tronco fininho, com galhos ondulados como as ondas do mar. Eu observava com atenção cada uma delas quando ia à praia com meu avô paterno e toda a família, na época das férias, no litoral paulista.
Sentia muito acolhimento ao passar por um caminho estreito de areia com estas árvores ladeando a passagem. Eu poderia passar mais tempo ali do que em qualquer outro lugar da praia. Sabe por que? Porque ali moravam alguns bichos-preguiça que viviam agarradinhos às embaúbas. Nessa época, nasceu meu amor – que é forte até hoje -, pelas embaúbas e suas amigas preguiças.
Árvore tão bela e tão pouco comum no paisagismo urbano. É costumeiro encontrar embaúbas de folha prateada quando fazemos os caminhos da Serra do Mar, em São Paulo. Tenho certeza que você já deve ter visto alguma. Elas parecem pontos de brilho em meio às copas verdes, são as estrelas da mata. Claro que nem todas têm folhas prateadas ou esbranquiçadas. Se você morar na cidade de São Paulo e for atencioso, pode ter visto alguns exemplares que foram recém plantados nas calçadas. Elas podem crescer, também, em terrenos abandonados, ou até mesmo podem ser vistas em projetos de paisagismo que quiseram aproveitar a estética e a arquitetura das curvas de sua copa.
Tem muita gente que confunde embaúba com cheflera (Schefflera arboricola) – árvore de origem australiana muito comum nas cidades brasileiras. Já vi gente confundir embaúba com mamoeiro, também. E há várias características que provocam essa confusão: a casca acizentada, o crescimento do tronco esbelto e longilíneo, as marcas de cicatriz na casca resultantes do desprendimento das folhas e dos galhos jovens e, finalmente, as folhas grandes com pontas ou compostas por várias folhas criando um desenho similar a um guarda-chuva.
Da família botânica Urticaceaeque inclui 13 gêneros, existem 20 espécies do gênero Cecropia ssp., entre as quais 5 são endêmicas do Brasil. Trata-se de um gênero presente em quase todos os biomas do território brasileiro – seja no Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica ou Amazônia, em terrenos áridos ou matas ciliares. Essa distribuição tão heterogênea do gênero é natural, ja que as embaúbas são espécies pioneiras.
embauba-arvore-amiga-avesE ser pioneira é uma responsabilidade enorme. Pioneiras são as árvores que, no processo de formação florestal, possuem características de alta resistência ao sol intenso e ao solo pobre de nutrientes. Geralmente, vivem menos, mas são essenciais para criar as condições adequadas de vida para outras árvores que podem viver mais de 200 anos ou mil anos. As espécies pioneiras têm vida muito próspera e abundante, estão sempre em interação com muitos animais oque promove uma grande capacidade de dispersão de sementes. No caso das embaúbas, isso acontece por meio dos frutos que são ingeridos por muitas espécies de aves e mamíferos – macacos, por exemplo. Seus frutos – ao menos a da espécie C. hololeuca – têm sabor similar ao da banana e suas sementes milimétricas são distribuídas pelo caminho onde aves, macacos e morcegos frequentam.
As preguiças, por exemplo, por terem alimentação quase praticamente folívora (à base de folhas), preferem as tenras folhas jovens das embaúbas e também adoram descansar em seus galhos ondulados. As formigas também gostam delas – principalmente da espécie C. glaziovii, como mostra o vídeo abaixo. Elas mantêm uma vida em simbiose com essas árvores, ou seja, uma troca saudável e equilibrada. A embaúba fornece alimento para as formigas que se alimentam de um composto doce presente nas “axilas” de suas folhas, produzido especialmente para atraí-las. Em troca, as formigas fornecem proteção contra predadores. Por isso, cuidado ao mexer nessa planta porque as formigas são bravas. Mas o bicho-preguiça é capaz de ignorar essa máxima e jantar as formigas, de modo que elas se tornam mais um atrativo para ele.

Cecropia (nome científico de boa parte das espécies de embaúbas, como destaquei acima) vem do grego Cecrops “filho da Terra, meio homem e meio serpente” – rei mítico de Atenas que reinou por 50 anos. Já embaúba, de origem tupi ambaíba, significa “árvore oca” ou “onde vivem as formigas”. Não é à toa que, com a madeira e o galho da embaúba, podem ser produzidos instrumentos.

A embaúba no meu (e no seu) dia a dia

Costumo coletar folhas de embaúba secas porque me parecem verdadeiras esculturas: das pequeninas e jovens até as enormes. Em casa, tenho uma parede inteira decorada com folhas de embaúbas e também uma luminária. Já usei muitas vezes as folhas pequenas como broche no dia-a-dia.
Certa vez, quando pedalava em uma trilha, notei que havia várias folhas de embaúba no chão, ao passar por cima delas. Parei assim que percebi, desci da bicicleta e procurei me manter com a bicicleta no canto da trilha, fazendo o maior esforço para preservar as folhas inteiras. Pra mim, elas são muito preciosas e eu sempre quero preservá-las e cuidar delas, mesmo no caso das folhas secas e soltas no solo, porque, assim, cumprem seu papel de fornecedoras de nutrientes no ciclo natural da floresta.
Encontrar essa árvore no caminho é como encontrar uma amiga, não importa o lugar. Em São Paulo, sempre que vejo ou revejo uma espécie dessa árvore, paro e fico admirando por um tempo, como se matasse a saudade. As embaúbas estão no meu cotidiano, não importa onde eu esteja.
No viveiro do Instituto Árvores Vivas, que criei em 2006 e dá nome a este blog, temos uma muda de embaúba crescendo no cantinho de um vaso já habitado por uma pata-de-elefante. A foto do sanhaço se refestelando nos galhos de uma embaúba – no meio deste texto -, foi feita na cidade de Palmas no Tocantins. Como podem ver, o que torna ainda mais especial essa amizade é que as embaúbas podem ser encontradas em quase todo o território nacional, na América do Sul e na América Central. Elas estão por aí, precisamos apenas deixar que toquem nossos corações.
Fotos: Wikipedia Commons e Juliana Gatti
Mestranda na área de Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, sua pesquisa dedica-se a avaliar a influência da natureza na qualidade de vida de crianças e sociedade. Idealizou o Instituto Árvores Vivas em 2006, onde promove ações de conexão com a natureza por meio de apreciação, restauração e fomento da cultura ambiental.

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